“A justa resposta inicial dos Estados Unidos aos ataques terroristas de 11 de Setembro, com a invasão do Afeganistão e a perseguição aos terroristas do Taleban, foi seguida pela injustificada Guerra do Iraque, ameaças crescentes ao Irã e por uma série de iniciativas negativas.
Mais de seis anos depois, não só Osama bin Laden e outros mestres do terror continuam à solta como o Iraque ocupado se converteu num matadouro, com milhares de civis mortos em atentados terroristas. O terrorismo, vale lembrar, não existia naquele país até então.”
A mídia é unânime em afirmar que a invasão do Iraque foi um erro monumental de Bush. Quando a mídia é unânime, eu aprendi que devo desconfiar. Até hoje só li um texto, e escrito depois do insucesso da ocupação americana, que reme no sentido oposto. Foi o de Ali Kamel em seu livro “Sobre o Islã”. Ele argumenta que com os dados que Bush dispunha em 2003, fruto de trabalho do serviço secreto e discursos do próprio Sadam, não só ele quanto qualquer outro presidente americano faria o mesmo. A grande questão era a suspeita que o Iraque se tornasse abrigo e apoio para Bin Laden; se com o apoio do miserável Afeganistão foi possível o 11 de setembro, o que aconteceria com um apoio bem mais substancioso, o Iraque? Se hoje não foram encontradas provas desta associação, não significa necessariamente que não existisse, não se faz aliança com o terrorismo com papel passado em cartório.
Sobre a ocupação em si, realmente não ficam dúvidas. Bush errou, e feio. Na tentativa de minorar o emprego de tropas, e evitar estragos como o Vietnã, confiou demais na tecnologia e usou infantaria de menos. Imaginava que após a derrubada de Sadam, os próprios iraquianos reconstruiriam sua nação. Mas que iraquianos? Anos de opressão acabara com toda a elite nacional e com as próprias instituições, não havia mais ninguém para conduzir o país, exceto, naturalmente, os pró-Sadam.
O que acho estranho é fácil esquecimento do que era o Iraque de Sadam. O editorial afirma que não havia terrorismo no Iraque. Esqueceu do terrorismo do estado contra seus cidadãos, o mais odioso de todos. Quantos iraquianos foram torturados e mortos apenas por se oporem ao ditador? O que existe hoje é a reação de grupos extremistas contra a democracia, esta sim a grande inimiga. Dizer que o Iraque se tornou um matadouro por causa da ação americana é torturar a história. Uma ditadura é sempre um matadouro contínuo por não aceitar a divergência.
O grande problema, após o fracasso do fascismo e do nazismo, o mundo que surgiu, bi-polar, levou os Estados Unidos a um grande erro: apoiar ditaduras que fossem contra a União Soviética. A aliança de uma democracia com o totalitarismo só podia dar no que deu, e o 11 de setembro foi um preço que pagaram por esta grande bobagem. Não questiono o apoio da URSS às ditaduras comunistas, estas por mais execráveis que sejam, possuem uma coerência: era uma ditadura apoiando a outra. O socialismo é totalitário em suas bases, pretende ser uma verdade universal e como tal não reconhece a divergência, e com ela a democracia.
O terrorismo islãmico não é dirigido contra os Estados Unidos, mas contra todas as democracias ocidentais, principalmente esta. Dizer que a invasão do Iraque foi um fracasso é questionável, em que sentido? O grande objetivo americano sempre foi claro: evitar novos ataques terroristas ao Estados Unidos. Até agora conseguiram. Eliminar todas as células terroristas é uma tarefa hercúlea, que exigiria a participação de todas as nações constituídas, como fazê-lo se muitas (inclusive a brasileira) possuem simpatias por grupos terroristas?
Por fim, outro argumento para o fracasso americano no editorial é a ameaça crescente dos americanos ao Irã. Não entendi. O Irã é governado por um perigoso megalomaníaco que, signatário do tratado de não proliferação das armas nucleares, mostra todos os sinais de estar desenvolvendo armas nucleares. Vale lembrar que o Irã admite que um dos objetivos nacionais permanentes de seu país é eliminar Israel do mapa. Quem está ameaçando quem?
Acho que a questão iraquiana merece uma reflexão mais séria, menos simplista, e mais realista por parte do jornalismo nacional.