A Pantomima do resgate

E continua a pantomima do resgate dos reféns da FARC. Não creio em dificuldades, apenas em exposição máxima na mídia, quase como um roteiro de um filme. A presença de Oliver Stone por lá está de acordo com o contexto, indício de mais um filme ideológico a caminho. Se depender de gente como ele, Chávez ainda acaba com um Nobel da Paz, como se não fosse sócio dos seqüestradores. O venezuelano corre o mundo defendendo seu socialismo do século XXI, que nada mais é do que o socialismo do século XX. Seqüestro e assassinado sempre foram justificados por este pessoal, sempre dentro da máxima de que os fins justificam os meios.

Devagar

Nesta época do ano a política corre mais devagar, como tudo mais neste país. Na verdade é uma época em que tentamos pensar em outras coisas, curtir mais a família, fazer nossas reflexões.

2008 vai ser um ano agitado politicamente com o embate pelas prefeituras, principalmente pela de São Paulo, por sua importância não só financeira, mas sobretudo simbólica.

O lulismo estará a toda, o que dará margem para muita discussão, um dos pilares da própria política.

Aguardemos.

Lula na TV: mais do mesmo

Não vi o pronunciamento de Lula na TV ontem. Pelo que li, nada de novo. Como sempre o país não existia antes de sua posse, nunca em nossa história tivemos um presidente como ele, etc. Tudo muito previsível.

É claro que o crescimento econômico, embalado em boa parte pelo crescimento mundial, é o esteio de seu governo. Neste ponto Lula tem responsabilidade objetiva. Contrariando tudo que seu partido defendeu (e que grande parte ainda defende) manteve a política econômica que herdou dos tucanos, para nossa sorte. Como levantou bem Reinaldo Azevedo em seu blog antes: para ter sucesso é preciso fazer o contrário do que o PT recomenda, mesmo se você for do PT. Foi o que Lula fez, e está capitalizando em cima.

Lula não disse que o crescimento econômico é fruto das bases estabelecidas no governo anterior, em tudo que não meteu a mão e não deixou que metessem, colocou a responsabilidade do crescimento nas políticas sociais do seu governo. Como se política social gerasse crescimento econômico.

Tudo isso deixa claro que a oposição precisar aprender a fazer política em um ambiente de economia de desempenho pelo menos razoável. E para isso precisa debater valores, mostrar que a despeito da economia, existem outras áreas de uma sociedade que são responsabilidades de um governo.

Toda campanha política é a mesma ladainha, só se fala de emprego, crescimento, inflação, juros, bancos, etc. Está na hora de se debater outras coisas na campanha, e fugindo do abstrato. A democracia, a liberdade de expressão, o modelo político, o aborto, os movimentos sociais, as ONGs e, ao meu ver, o principal papel do estado: a segurança.

A medida que alguns indicadores básicos aumentam, começa na aparecer como a segurança como uma das maiores preocupações do eleitor. E nesse item o governo Lula é um fracasso completo, em qualquer nível, federal, estadual ou municipal. Para isso existe uma razão: a tese fechada no partido (e nas esquerdas) da responsabilidade social do crime.

É preciso enfrentar o petismo em seus valores, em sua essência. Existe todo um discurso instituído na sociedade nos últimos 30 anos que o protege. Esta na hora de desconstrui-lo. É preciso que não se tenha medo de assumir posições firmes e contrariar alguns segmentos da sociedade.  Muitas teses petistas não resistem a um bom debate, por isso demonizam o interlocutor para fugir do confronto.

Enfim, é preciso coragem.

Negociação surrealista na Colômbia

Há anos a FARC mantém uma série de reféns como forma de pressionar o governo colombiano, até aí nada que a difira dos outros grupos terroristas mundiais. A questão emblemática é que a mídia internacional descreve o vilão da história como se fosse o governo colombiano, que é acusado aqui e acolá de intolerante.

Tudo porque, felizmente, o presidente colombiano não é um “deles”. É uma dos que não se encontram na chamada “onda vermelha” que tomou conta do continente sul-americano. E está fazendo um excelente trabalho por lá, vejam que mesmo no meio de uma quase guerra civil, a Colômbia avança com excelentes números de crescimento econômico. Aliás, é o único país da América do Sul onde a democracia nunca teve ameaçada de fato, praticamente nunca esteve em regime de excessão.

A coisa toda foi orquestrada com muito requinte. Três reféns serão libertados, graças à capacidade de negociação de Hugo Chávez. Acompanharão o acordo o governo brasileiro e argentino. Todos serão os heróis, que conseguiram o sucesso onde Uribe fracassou. O que ninguém divulga é que Chávez, Lula, Morales, Rafael Corrêa, PT, MST e FARC pertencem a um mesmo grupo político denominado Foro de São Paulo.

Não se trata de teoria da conspiração, nem delírio coletivo. TODOS que foram citados confirmam que o grupo existe, fazem reuniões periódicas e publicam as resoluções públicas. O objetivo não é negado por ninguém: construir na América Latina o que foi perdido na Europa Oriental com a queda do muro de Berlim. Aliás, fica uma pergunta: se nenhum deles nega, por que a mídia não trata do assunto?

Uribe cometeu um erro grave, lá atrás, quando aceitou que Chávez fosse intermediário para um acordo com as FARCs. Depois se arrependeu, afastou o quase ditador venezuelano, mas acabou bastante chamuscado na estória toda. Deveria ter recorrido a um intermediário com sem ficha corrida, o Vaticano talvez, mas agora é tarde.

A impressão é que as FARCs estarão cometendo um ato de grande magnitude ao libertá-los. Poucosa falam um pouco de lógica básica: eles não seriam reféns se não tivessem sido seqüestrados… pelas FARCs! É ou não é uma grande inversão e um engodo?

A cobertura que está sendo feita pelo caso é um grande exemplo da clara posição ideológica da grande imprensa.

Infelizmente.

Início

Ainda faltam muitos ajustes, mas o básico está pronto. A partir de agora os posts que serão colocados são exclusivos deste blog, os anteriores foram importados de um outro blog. O motivo desta mudança foi que o conteúdo político cresceu bastante, e acabou tomando parte significativa de um projeto que era para ser de natureza mais geral, e pessoal também. Cheguei a conclusão que não ficava bem misturar fotos dos aniversários de meus filhos com a podridão que cerca o debate ideológico no Brasil. Meus filhos e Lula não cabem em um mesmo veículo, seja ele qual for.

Para ficar bem claro, este blogueiro defende o indivíduo contra a força esmagadora da coletividade. Não acredito em uma moral coletiva superior a dos indivíduos, não acredito em um Estado perfeito, nem sociedade perfeita. Não neste mundo. Acho a ideologia um mal, uma perversidade. E não acredito que os fins justifiquem os meios, ainda mais que os fins mostram-se, em geral, exatamente o contrário do que é pregado.

Refuto, veementemente, o “novo mundo possível”, principalmente nos termos que são colocados do debate atual. Não acho o capitalismo um mal, muito menos o lucro. Também não o considero a perfeição, até porque nunca não é uma filosofia, nem um projeto de uma sociedade perfeita, apenas uma realidade prática da humanidade. Quando Adam Smith escreveu sua obra, não propôs uma filosofia nova, apenas relatou o que tinha em comum as grandes civilizações de sua época: liberdade econômica, liberdade de imprensa, livre-mercado, etc. Em suma: liberdade. E este é o espírito que me anima.

Portanto, sou em defesa da sociedade civil contra o poder exorbitante do estado moderno, principalmente o estado do tipo patronal, como o brasileiro.  E, principalmente, que não existe almoço grátis. Todo dinheiro do estado é retirado à força da sociedade civil, alguns de forma justificada (como segurança pública), outras não (como publicidade oficial). O que vejo no Brasil é um estado que arrecada demais, e gasta onde não devia; isso antes de considerar a corrupção.

Em resumo, não acredito nas esquerdas, justamente poder defenderem tudo que sou contra. Na concebem que alguém pense contrário a seus dogmas. Este foi o motivo para escolha do nome deste blog. O pensamento é o último refúgio da individualidade. Podem prender o homem, deixá-lo acorrentá-lo, podem fazê-lo confessar qualquer coisa, mas sempre lhe restará a liberdade de pensar. Todas as tentativas dos totalitários em agir nesta liberdade acabaram na destruição do indivíduo.  O homem deixa de existir sem a liberdade de pensar.

Por isso acho que a busca pela sabedoria é uma necessidade do ser humano. Todos possuem opiniões, mas poucos capacidade de pensar. Não me considero melhor do que ninguém, mas dentro da tradição socrática, sei que não sei. O que já é uma grande diferença para a grande maioria.

Um bom argumento

Tratei aqui sobre o projeto de lei que garante o pagamento de um salário mínimo para a vítima de estupro que resulte em gravidez, caso a mãe opte (vejam bem, opte) por não abortar.

Não entrei em nenhum momento no mérito do projeto. Apenas critiquei a posição de uma entidade em defesa das mulheres e a tentativa de colocar o aborto como a única opção nestes casos. Aliás fui xingado por uma leitora que me acusou, entre outras coisas, de ser favorável ao estupro!

Sobre o projeto em si, nem sabia que ele existia. Li hoje um argumento bastante válido para sua derrubada. Como evitar a simulação de estupro? Como evitar mais uma indústria de indenizações indevidas? Só faltava agora existir um processo para provar que foi estuprada.

Estupro é um crime hediondo, acho que ninguém poderia sair da prisão antes de cumprir pelo menos uns 20 anos efetivo atrás das grades. Infelizmente nossas leis colocam o facínora em liberdade em menos de 5, e não raro voltam a cometer o mesmo crime. Mais uma vez nossa legislação, na dúvida, é a favor do criminoso, nunca da sociedade.

Eu tenho uma curiosidade

Nas últimas semanas uma série de pesquisas eleitorais foram divulgadas. Várias simulações foram realizadas, por mais esdrúxulas que fosse. Até mesmo Lula apareceu, mesmo que a lei, atual, não permita sua candidatura. Por que Geraldo Alckmin não apareceu para presidente? Por que não foi incluído em nenhuma simulação?

O fato de ter perdido a eleição em 2006 não é motivo para retirá-lo de qualquer lista. Serra perdeu em 2002 e estava em todas as simulações para 2006. Como Alckmin, também negava que se lançaria candidato. Por que a rejeição sumária ao nome do ex-governador?

Eu tenho uma curiosidade. Gostaria de saber como se comportaria o nome de Alckmin em uma lista. Mesmo com todas as bobagens feitas na campanha passada, o nome dele foi lançado nacionalmente. Fico imaginando se por acaso ele aparecesse como candidato competitivo, e acho até razoável que apareça, como ficariam os Serristas?

CPMF: primeira derrota

O governo sofreu a primeira derrota política desde que começou a era Lula, em 2003. Essa é a natureza correta da derrota, pois foi assim que o planalto resolveu tratar a questão.

Havia espaço suficiente para uma negociação, mas a arrogância prevaleceu. Lula confiou que os governadores da oposição conseguiriam os votos que faltavam, ao mesmo tempo que demonizava seus adversário. A todo momento, táticas terroristas. Ignorando o aumento anual da arrecadação (sempre motivo para cantar vitória), e o aumento do gasto público (segundo o presidente, choque de gestão é gastar mais), colocaram o imposto como necessidade para o sistema de saúde.

A oposição pode se preparar para a carga do presidente. Cada problema da saúde será tratado a partir de agora como culpa da derrubada da CPMF. Cabe à oposição desconstruir este discurso. É difícil, o jornalismo é pautado por sua excelência, os tocadores de tuba __ expressão criada por Reinaldo Azevedo __ estarão em campo.

Não foi propriamente uma vitória oposicionista; juntos DEM e PSDB não possuíam votos para reprovar a CPMF, nem meios de atrair aliados. A derrota foi do governo, que não conseguiu segurar os seus votos. Faltaram 4 votos, 6 senadores da base aliada votaram contra o tributo. Aliás, não teve votação importante que não tivesse sido aprovada com votos da oposição. E o que fez Lula com esses votos? Não perdeu uma oportunidade de culpar seus adversários por tudo de ruim que existe no país.

Talvez seja um ponto de inflexão. Talvez a oposição tenha finalmente percebido que não pode ficar ajudando o governo e receber pedradas em resposta. Existe uma tese que o momento favorável a um segundo mandato é o primeiro ano. Depois, o jogo político se volta para a sucessão e não se vota mais nada importante no Congresso. Lula é uma caso a parte, mantém sua popularidade mesmo após o desgaste de 5 anos na presidência, e a frente de um governo manchado de lama por todos os lados.

Mas fica a sua primeira derrota política no parlamento, o que é bom para a democracia. Nenhum governante pode atropelar o Congresso como tem feito.

Bolsa-Estupro?!?

Blog do Cláudio Humberto:

O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher escreveu uma carta de repúdio ao projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados que prevê assistência financeira à mãe e ao filho fruto de estupro. O manifesto foi entregue ao relator da matéria na Comissão de Seguridade e Família, deputado José Linhares (PP-CE), pela representante da Rede Feminista de Saúde no CNDM, Lia Zanotta. A carta também foi protocolada na Secretaria da Câmara e distribuída aos outros integrantes da comissão. Para o Conselho, a proposta é mais um retrocesso no processo de democratizar o país. De acordo com a carta, o projeto contraria o Código Penal de 1940 que garante a interrupção da gravidez em caso de estupro. “A Constituição Brasileira estabelece que ter filhos é uma decisão da cidadã e que o Estado deve fornecer os meios necessários para que se possa exercer esse direito com dignidade”, destaca a carta.

Estou tentando encontrar algum sentido nessa carta, mas está, por deverás, difícil. Como é que é? Pelo que entendi o tal conselho, que se diz defensor dos direitos da mulher, protestou contra um projeto que prevê assistência financeira à mãe e filho fruto de estupro? Parem o mundo que eu quer descer!

A argumentação é ainda mais esdrúxula. Primeiro porque relaciona “democratizar o país” com liberação do aborto. É aquela velha história, defender o aborto é ser progressista, ser contra é ser reacionário. Faz parte do “estupro” semântico da linguagem.

O mais curioso é que afirmam que a lei garante a interrupção da gravidez em caso de estupro. Garante ou permite? Por que uma ajuda financeira tiraria o direito de realizar o aborto? A lei permanece, o direito é assegurado. Ah, mas não querem o incentivo para a mãe manter a gravidez. Por que? Por que ofende tanto a esse pessoal que uma mulher, mesmo vítima de um estupro, queira ter o filho?

Estou cansado de eufemismos, “exercer esse direito com dignidade” é o mesmo que realizar o aborto. Por que não tratam as coisas pelo nome? Por que abortar significa o mesmo que “direito da mulher de ter filhos”?

Eu sei que as democracias mais avançadas consideram o aborto um direito da mulher. Só que em nenhum desses países a prática é uma unanimidade, longe disso. Existem protestos contra o aborto em qualquer lugar do mundo, e ai dessas pessoas que não entendem esse “avanço” da civilização, são todas reacionárias!

Nessa história fico com a tradição cristã. Aborto é um atentado contra a vida, é uma escolha que um dia será cobrada. Pois façam suas apostas. Uns com o humanismo, com o progresso da ciência e da civilização. Eu fico com a tradição, com os reacionários.

Uma vez Pascal afirmou que não poderia provar que Deus existe. Mas que se tivesse que apostar, era melhor apostar em sua existência. Não preciso apostar, tenho minha fé, e minha razão. E as duas me mostram que o aborto pode não ser um crime pelas leis dos homens, mas seguramente é pelas leis do criador.