TV Lula vem aí

A tal TV pública nem estreou e já está mostrando que de pública não tem nada, é do governo mesmo. Esta semanas vários fatos sucederam-se em seqüência:

  1. Franklin Martins, revoltado com a pergunta de um jornalista, afirma que ninguém pode dar-lhe lição de democracia. E, logicamente, não responde à pergunta. Martins lutou para instalar uma ditadura comunista no Brasil, mas na versão dos perdedores, é um democrata.
  2. Duas diretoras da TVE pedem demissão ao verem a emissora invadida por um grupo grande de gente da nova TV. Logicamente sem concurso, e provavelmente com muito pouca qualificação. Em nota, a diretora executiva da TV pública(?), Beatriz Sussekind afirma que as duas foram demitidas. Era um recado para quem fica.
  3. Um jornalista e professor da UFF, Felipe Pena, debatedor do programa Espaço Público, no intervalo de um dos blocos do programa, é confrontado pela apresentadora, Lúcia Leme, que o pede para “maneirar” nas críticas ao governo porque a TV Pública “vem aí”, e ela seria demitida.
  4. No primeiro dia de programa, uma ode a uma personalidade histórica. Don João VI? D Pedro II? Caxias? Jucelino? Nada disso. Trata-se de Che, o porco fedorento. Tudo em nome da tal pluralidade.

É tudo tão previsível que chega a ser tedioso. São os mesmos métodos que Stalin implantou na União Soviética. O clima na TVE é de terror, quem não se alinhar vai para a rua. É hora das oposições fazerem seu papel e denunciar. É hora do conselho curador começar a trabalhar.

Antes que seja tarde.

A ameaça nuclear

Estudando a história parece incrível que a Europa não imaginou, em 1914, que estivesse as vésperas de uma carnificina humana. Mas estava.

Estudando a história, parece incrível que o mundo não imaginou, em 1939, que se envolveria no maior conflito bélico da história. Mas se envolveu.

Os indícios estavam todos presentes, a conclusão parece óbvia hoje, décadas depois. Alguns homens perceberam, tentaram fazer o alerta, foram ignorados.

Não tenho explicação para o que aconteceu. Acredito que a humanidade fechou os olhos diante de uma realidade que não desejava encarar. Preferiu ignorar os alertas, chamar de loucos homens como Churchill, que já apontava para o desastre eminente. Mas existiu sim uma seqüência de fatos que apontavam para a destruição, bastava abrir os olhos para ver.

Quando explodiram as bombas nucleares, não foi mais possível esconder o pessimismo. A guerra terminara com uma realidade ainda mais assustadora, um país, os Estados Unidos, dispunham de uma arma de destruição nunca antes imaginada, um verdadeiro prenúncio de um apocalipse.
Logo a União Soviética tinha a sua, seguido da China.

Desta vez não houve espaço para dúvidas, o perigo era real. Soviéticos e americanos basearam sua defesa em um ponto em comum: se atacados, a reação seria devastadora. Era o que ficou conhecido como doutrina da Destruição Mútua Assegurada. Não havia como evitar um primeiro ataque, garantiam-se com a certeza do segundo.

Com a queda do muro de Berlim, e fim da União Soviética, o mundo suspirou aliviado. Acabara a ameaça. Os Estados Unidos já não tinham o gigante do leste como adversário, agora seriam aliados em uma nova realidade de um mundo globalizado.

Seria este o fim da ameaça? Alguns indícios parecem preocupantes.

A Índia e o Paquistão, inimigos históricos, possuem a bomba. Pior, são vizinhos, e o segundo encontra-se em convulsão social.

A Rússia começa a dar sinais de totalitarismo renascente. Putin está armando uma forma de se perpetuar no poder, agora como primeiro ministro, com um presidente fraco. Acreditar que o governo russo está satisfeito com um papel menor na política global é ir longe demais no otimismo.

A China sempre será uma incógnita. Apesar de um capitalismo controlado, em áreas específicas, ainda é um regime totalitário, e socialista. Um regime que aponta por uma busca do lugar hegemônico hoje ocupado pelos americanos.

Regimes delinqüentes estão avançando, o Coréia do Norte já possui um artefato. O Irã busca desenvolver sua tecnologia, até a Venezuela quer entrar no jogo. O que será do mundo quando os loucos possuírem tecnologia nuclear?

De que serve a doutrina da Destruição Mútua Assegurada para um fundamentalista? Para quem acredita no suicídio como forma de santa de guerrear?

Outro ponto importante, que pouco foi falado até aqui, é lembrado por Jeffrey Nyquist, um sociólogo americano, especialista em geopolítica. Com a proliferação das armas nucleares, como saber de onde partiu um ataque? Como saber se a Rússia ou a China, ou ambos, realizaram um ataque a Nova Iorque contando com a provável culpa dos fundamentalistas? Impossível? São nações pacíficas? Não existe isso no totalitarismo, terá a humanidade esquecido as lições de Hitler, Lênin e Stalin? Terão os milhões de cadáveres caídos no esquecimento da história?

O ocidente está hoje muito mais vulnerável do que durante a Guerra Fria. O inimigo é incerto, a ameaça difusa. O próprio americano não acredita na hipótese nuclear, em uma futura destruição.
Os indícios estão aí, e novamente vejo a humanidade fechando os olhos para uma ameaça real. Assustadoramente real.

Uma definição vagabunda

Se tem uma coisa que todo esquerdista tem horror é a tal da classe média. Não por acaso é a primeira a desaparecer em regimes socialistas. Vejam como Josias de Souza definiu o segmento:

Resta o brasileiro de classe média. Divido entre o desejo de viver como rico e o pavor de ganhar como pobre, é esse cidadão médio que mais torce o nariz para Lula.

É a falácia oriunda da visão dialética do conflito de classes do marxismo vagabundo. Afinal, existem os pobres e os ricos, a classe média é uma coisa esquisita que aparece no meio. Nem passa pela cabeça desse indivíduo que a classe média deseja apenas viver com dignidade, sem ser extorquida pelo poder público e ganhar um salário justo por seu trabalho. Quer oportunidade de crescimento, pagar um bom estudo para os filhos e um bom plano de saúde para não depender do circo de horrores oferecido pelo governo.

Ser rico é uma expressão da maldade, no mesmo texto fala que o ” milionário não precisa do governo para desfrutar de sua pobreza de espírito“. Isso quer dizer que a classe média tem um desejo pela maldade?

Josias de Souza deve estar pensando nos seus termos, imagino que seja um representante do segmento, ou um novo rico, pobre com certeza não é. Se é dessa forma como se vê, o problema é dele. Mas achar que todos temos os seus mesmos desejos, aí já vai uma distância gigantesca.

Um único senão

Ainda não consegui entender porque o procurador geral da república fez o correto no caixa dois mineiro, pedindo o indiciamento de Azeredo, por ser o principal beneficiário do esquema, e deixou de fora o beneficiário do esquema do mensalão. Ainda mais que o segundo caso foi muito além de um caixa 2 eleitoral, que é crime, ao realizar a compra de parte do congresso nacional. Ficou com medo?

A substituição do Walfrido por José Múcio mostra, mais uma vez, o tamanho da banana em que vivemos. O cara foi um dos participantes do esquema que comprou o PL como aliado do PT. Mas a nomeação não deixou de ser a cara do atual governo.

Não está certo

Esta semana está sendo difícil no Rio de Janeiro. Primeiro um turista italiano é morto atropelado por um ônibus ao ser empurrado por um marginal que o assaltava. Depois um policial do BOPE é executado depois de ter seu carro roubado. O mesmo aconteceu com um capitão do exército. E ainda mais dois PMs. Diogo Mainardi, como sempre, resumiu um diagnóstico muito apropriado: isto não está certo.

Por mais simplório que possa parecer, e mais óbvio também, estamos num país tão doente que isto não é uma unanimidade. Algumas semanas atrás, Luciano Huck ousou escrever um artigo retratando a sua frustração em ter sido roubado. Foi um caos, teve gente até defendendo que era uma troca justa: o ladrão ficara com seu relógio e ele com a vida.

Existe no imaginário da intelectualidade brasileira, e boa parte da mídia, a figura do bom ladrão, tão em voga no cinema brasileiro da década de 70. Acreditam que eles roubam por serem oprimidos, por passaram fome. Poucos tem a coragem de colocar a questão no divido ponto: transgredir as leis sociais é uma questão de escolha. Seja rico ou pobre. Ter desprezo a vida humana é questão moral, não de falta de oportunidade.

Reinaldo Azevedo tocou em outro ponto interessante. Cadê a nota da OAB/RJ questionando estes valentes? Cadê as ONGs aparando as famílias destes militares? Cadê o delegado da ONU, o mesmo que admitiu ter assistido o DVD pirada de Tropa de Elite, denunciando o desrespeito aos direitos humanos? Mas policiais atirando em bandidos armados é violência, bandidos executando militares desarmados não. O que esperar de um país que tem o presidente que temos?

O capitão, Wander Cerqueira de Souza, era um colega e amigo; fica a angústia e a tristeza de vê-lo sem vida por causa da violência urbana.

Isso não está certo.

Expurgo do IPEA

O expurgo do IPEA é muito mais grave e emblemático do que a maioria pensa. Em seu grande livro, A Revolução dos Bichos, Orwel narra que os animais da fazenda começaram a achar que estavam comendo menos do que no tempo do domínio dos homens. Foi então que Chalaça, o porco responsável pela proganda da revolução, trouxe uma série de gráficos e estatísticas mostrando que era o contrário: comiam mais ração do que antes.

Orwel criticava a propaganda oficial do regime soviético que produzia dados mentirosos para manter o controle da população. Observem qualquer dado oficial sobre Cuba: o regime caribenho é um sucesso completo. Regimes socialistas abominam a verdade sobre si mesmos, repetem mentiras sem o menor pudor.

O petismo não instalou uma república socialista no Brasil porque não pode. Mas não passa um dia sem avançar um pouquinho nesta linha, testando as reações, extendendo o limite do possível. Foi o que aconteceu no IPEA: o expurgo de 4 economistas não alinhados com o governo.

Por que a presença desses economistas tornou-se indesejada no instituto? O IPEA sempre se caracterizou por estudos sérios, estatisticamente bem fundamentados, produzindo panoramas e projeções econômicas para o Brasil. Seu trabalho sempre foi independente do governo da ocasião, e isto, no petismo, é intolerável.

A re-eleição de Lula, principalmente depois de todos os escândalos de corrupção de seu governo, revelou-se um verdadeiro cheque em branco. Se o eleitor aceitou tudo aquilo, não há nada que não posso aceitar. O governo é mais forte hoje do que no início do primeiro mandato. Daí a prepotência cada vez maior de seu chefe e a virulência com que seu governo atropela, uma a uma, as instiuições da república.

Os novos 4 economistas nomeados para o IPEA mostram a intenção do governo. São todos da denominada linha “desenvolventista”, a que acredita que o importante é o crescimento econômico, mesmo se resultar no desequilíbrio das contas públicas, e na inflação.

Não é por acaso que o gasto público sobe a taxas três vezes maiores do que a arrecadação; a ordem do governo é ampliar cada vez mais, aumentando ao máximo o estatismo.

Giambiaggi, um dos economistas expurgados, apontou em livro recente as razões do atraso brasileiro. O principal vilão é o estado, que consome grande parte das riquezas do país, e sufoca a iniciativa privada, essa sim capaz de produzir geração de riquezas que tanto se precisa. Por suas idéias agora está fora.

É como muita tristeza que vejo esta caminhada rumo ao abismo inevitável; é uma política que sempre levou à ruína econômica. Quando o petismo deixar o poder, terá produzido a verdadeira herança maldita dessa nação. Minha geração e as futuras terão que lidar com essa herança, nosso futuro estará comprometido por tudo que está sendo feito hoje, com aplausos boa parte da intelectualidade brasileira, é bom que se diga.

A cada dia estou mais pessimista. É um pesadelo contínuo, que parece nunca chegar perto do fim. Toda euforia que senti nos anos de 94 a 96, com a constatação que pela primeira vez estávamos no rumo certo, acabou-se. Resta apenas a desilusão de ver meu país cada vez mais dominado por uma quadrilha, assaltando os cofres públicos à luz do dia, e jogando às favas o nosso futuro.

O "moderado"

A maior parte da mídia brasileira, junto com os analistas americanos, consideram Lula um contraponto à Hugo Chávez. Outro dia, até Merval Pereira, que escreve bons artigos de opinião, classificou nosso presidente como “esquerda moderada”. Volta e meia surgem pequenas notícias que dão conta que Lula estaria “irritado” com as diabrices do venezuelano.

Lula só não faz no Brasil o que Chávez está fazendo na Venezuela porque não pode. Simples assim. Até porque o Brasil é o país mais importante no mundo a afiançar o que acontece na Venezuela. Está claro nas palavras ditas ontem:

Podem criticar o Chávez por qualquer outra coisa. Inventam uma coisa para criticar. Agora, por falta de democracia na Venezuela, não é.

Querem mais?

O que não falta no país é discussão. Democracia é assim: a gente submete aquilo que acredita, o povo decide e a gente acata o resultado. Se não, não é democracia“.

É a velha tese totalitária de que a democracia permite tudo. O nazismo e o fascismo foram amplamente populares em sues países enquanto duraram, isso os justifica? Se a maioria de um povo decidir exterminar uma minoria, pode? Se fizesse uma consulta popular sobre o destino de Renan Calheiros e a ampla maioria decidisse pela forca, tudo bem?

A esquerda, quando lhe é interessante, sempre defende a consulta popular, como se o Congresso não fosse uma expressão legítima para expressão da população. O brasileiro seguramente não é, por fatores culturais e, principalmente, por nossa forma eleitoral esdrúxula. Mas a solução não é eliminá-lo. Ruim com ele, pior sem.

O discurso de Lula II justifica uma ditadura. Não custa lembrar que Saddam Hussein era constantemente eleito por 100% dos votos. Era um exemplo de democracia o Iraque, não?

Esse é o presidente que disse há alguns anos que na Venezuela existe “democracia até demais”. A imprensa preferiu dar a esta frase uma conotação de mais um ato falho, uma frase dita sem pensar. Pois está aí no discurso de ontem. Só falta lamentar que no Brasil exista menos democracia que na Venezuela.

Novamente defendeu o direito de Chávez perpetuar no poder, comparando-o com Thatcher, Mitterrand, Kohl. Todos, é claro, chefes de governo, não de estado. Um primeiro-ministro é eleito sem mandato fixo. Pode durar alguns meses, como já duraram, ou muitos anos. Tudo depende do seu desempenho, enquanto contar com a confiança do parlamento, que É expressão da vontade popular, permanece. No dia que perder, cai. Se fosse primeiro-ministro, Lula teria caído no mensalão. Teríamos tido novas eleições e um novo Congresso, menos petista.

Lula na verdade não defende só Chávez, defende também seu próprio direito de se perpetuar no poder. Como? Com uma mudança na constituição, via parlamento ou plebiscito. Por que não o faz? Porque não pode, ainda. Tudo que saiu até agora sobre o terceiro mandato é balão de ensaio, para ver a aceitação. Por enquanto os petistas percebem que não há condições políticas, a negociação da CPMF mostra o que seria no congresso a negociação por um terceiro mandato, e o preço que corresponderia.

Não, Lula não é um esquerdista “moderado”. É um dos membros fundadores e atuantes do Foro de São Paulo, o que nunca negou. O objetivo é transformar a América Latina em um continente socialista, o lixo que a Europa rejeitou, finalmente, em 1989. Cada governo socialista avança, na velocidade que lhe é permitida, para alcançar este objetivo. Mas avançam.