Parece que estava adivinhando

Acabei de mandar bala no último posto e sou surpreendido por um decreto do governador do DF. Versa sobre a ineficiência da máquina pública. Sabe aquele “Cadê o relatório X?” e a resposta “Estou fazendo” ou “Estou acabando”? Pois vejam o decreto e tirem suas próprias conclusões:

“Decreto nº 28.314, de 28 de setembro de 2007.

Demite o gerúndio do Distrito Federal, e dá outras providências.

O governador do Distrito Federal, no uso das atribuições que lhe confere o artigo
100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:

Art. 1° – Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.
Art. 2° – Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA.
Art. 3° – Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º – Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 28 de setembro de 2007.

119º da República e 48º de Brasília
JOSÉ ROBERTO ARRUDA”

O país dos funcionário públicos

Nosso guia falou hoje que choque de gestão não é demitir pessoas, mas contratá-las. Lembrou-me o início do seu governo quando um colega dentista falou que agora era hora de aproveitar porque iria chover concurso público. Aliás, foi bem claro ao justificar-se por seu voto na última eleição: Alckmin iria acabar com concursos.

Fica claro uma das razões para o atraso e o fracasso do Brasil como nação. Os estados que foram para frente basearam-se na força de suas sociedades para gerar riquezas e atingir padrões elevados de desenvolvimento. Muitos desses países adotaram posteriormente o estado do bem-estar social, mas quando já dispunham de recursos suficientes e, sobretudo, uma população educada e ativa para fiscalizar os desmandos de seus governantes. A palavra chave foi o empreendedorismo, a busca pelo sucesso individual.

No Brasil temos dois sonhos. O primeiro é ganhar da Mega-sena. As filas quilométricas a cada prêmio acumulado assim o demonstram. E ganhar para nunca mais precisar trabalhar, ou seja, já existe a cultura contra o trabalho.

O segundo é passar em um concurso público. Muitos poucos são motivados por ideais elevados, como servir à sociedade. A discurso é no sentido de conseguir a estabilidade econômica e uma boa aposentadoria. E como no primeiro sonho, parar de trabalhar. Existe o inconveniente de comparecer no emprego, mas nem tudo é perfeito. O negócio é se servir da sociedade.

Daí para a confusão do público com o privado é um passo. O resultado é a ineficiência, o inchaço da máquina pública, aumento nos impostos e mais atraso. Retira-se os recursos da sociedade para pagar esta conta e torna ainda mais difícil o mercado privado. Solução? Passar num concurso público. E alimenta-se o ciclo vicioso.

Longe de mim dizer que todos os funcionários públicos são ineficientes, nunca generalizo. Mas boa parte é, e qualquer um que já precisou de algum serviço público sabe disso. É só ver a felicidade quando se tem a sorte de ser atendido por um bom funcionário. Se todos estivessem ali para servir ninguém ficaria feliz por vê-lo cumprir sua obrigação.

Um país subdesenvolvido quando adota a solução de mais estado para os problemas de má gestão pública está no caminho conhecido para o fracasso. Todo o esforço do governo FHC de enxugar a máquina e diminuir o gasto público já foi perdido e o Brasil caminha para um estado cada vez mais pesado. Para sustentá-lo, os impostos. Onde isso vai parar?

O tempo dirá.