Em artigo publicado no Estadão de hoje, Gaudêncio Torquanto trata da decadência moral é ética na sociedade brasileira. O texto é curto e destaca alguns exemplos recentes dos absurdos que, em nosso cotidiano, ganham cada vez mais ares de normalidade.

Remete inicialmente à Montesquieu, que “ensinava que os homens são administrados por um conjunto de coisas, como o clima, a religião, as leis, as máximas dos governantes, os exemplos dos fatos passados, os costumes, as maneiras”. O resultado é o espírito geral de uma Nação, cuja degradação seria representada pela vitória dos vícios sobre as virtudes.

O Brasil se encaixa em um quadro de “quebra da lei e da ordem, anarquia crescente, Estados fracassados, ondas de criminalidade, máfias transnacionais, debilitação da família, declínio da confiança nas instituições, cartéis de drogas, enfim, o paradigma do caos.”

Como o Brasil chegou a este ponto? A resposta é complexa e envolve a superposição de interesses pessoais sobre as idéias, com ênfase na má qualidade da gestão política __ notadamente no executivo e legislativo.

Cenas do cotidiano mostram a inversão dos valores. Em Maringá, um desempregado foi preso após praticar um furto e roubo, e de ter os objetos surrupiados tomados por outros ladrões. Na cadeia, clamava por policiamento, fazendo uma distinção entre o roubo que praticou e o que foi vítima, um uma lógica de conveniência, a mesma praticada pelos atores políticos. Cita também Wellington Salgado, pego sonegando milhões de impostos quando dirigia uma Universidade de sua família. E o absurdo artigo do rapper Ferréz, aquele que defendeu o roubo do rolex de Luciano Huck como um acordo bom para ambas as partes.

E ainda tem o inacreditável caso envolvendo o presidente do Senado, contribuindo para afundar ainda mais o Legislativo. O Executivo não fica atrás, na luta para manter a CPMF ao mesmo tempo que não consegue controlar uma epidemia de dengue. O próprio presidente mostra sua lógica de conveniência ao atacar a privatização de ferrovias no mesmo dia em que fazia a de algumas rodovias e elogiar como exemplo de democracia a de um ditador que, há 20 anos, esmaga um país miserável de 10 milhões de analfabetos.

Conclui com a constatação que os valores do passados estão adormecidos, e que para despertá-los necessita-se da indignação, da mobilização de cidadãos ativos e pressão das ruas.

Torquato sintetiza bem algumas de minhas próprias idéias. Coloco uma ênfase especial na “mobilização dos cidadãos ativos”. Entendo como manifestações espontâneas, como as que tem sido convocadas pela internet pelo Brasil afora. Nada de dinheiro público ou mobilização de estruturas financiadas pelo estado para fazer baderna como sempre se fez no Brasil.

Mas o principal é devastação dos valores morais da sociedade. Hoje em dia, quem defende virtudes é ridicularizado, tratado como um irrealista. É a maior constatação da vitória do relativismo moral e a ausência de lógica no trato destas questões. É o que leva um homem a roubar e ser roubado, tratando os dois roubos com princípios morais diferentes.

É o retrato de um país que não deu certo. Ainda dará?

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