Os 7 seguranças

Os sete seguranças presos sob a acusação de envolvimento na morte de um sem-terra durante a invasão da fazenda da Syngenta em Santa Tereza do Oeste (PR), dia 21, vão responder ao processo em liberdade. Ontem à tarde a juíza da 1ª Vara Criminal da Comarca de Cascavel, Sandra Regina Bittencourt Simões, concedeu o relaxamento de prisão dos acusados. Segundo a juíza, não há provas, até agora, de que algum deles tenha matado o sem-terra. O relaxamento das prisões revoltou os movimentos sociais.

Neste confronto morreram duas pessoas, um segurança e um sem-terra. Quem fez a invasão? Os sem-terra. Quem estava na defensiva? Os seguranças. Quantos sem-terra foram presos pela morte do segurança? zero. E quantos seguranças foram presos pela morte dos sem-terra? 7. Exatamente, 7. Isso porque a constituição diz que “todos são iguais perante a lei”.

Mais sábio, Orwell já afirmava décadas atrás: “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros”.

Em síntese, é o pensamento central das esquerdas. Tudo gira em torno de se diferenciar grupos. E é assim que um grupo fora-da-lei como o MST ganha status de ”movimento social”.

Começou

Já existem parlamentares do PT levantando na Câmara dos Deputados um clima para uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) permitindo a re-eleição sem limites. Alguns já falam em plebiscito. O presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello afirma que seria necessário uma revolução para mudar a regra do jogo.

Claro que não é verdade. Uma emenda constitucional pode sim acabar com o limite de dois mandatos sucessivos, assim como criou a re-eleição no governo FHC. Faz parte das regras do jogo.

Quer dizer que Marco Aurélio se enganou? Duvido, um ministro do Supremo sabe muito bem o que pode ou não pode fazer. A opinião que transmitiu mostra justamente o contrário do que quis dizer. Sabe que a possibilidade é real, e muito real. Por isso a reação que teve.

O fim do limite de re-eleição seria o desastre para o país. Nem os Estados Unidos, a democracia mais avançada do mundo, a adota, e tem seus motivos.

As afirmações de Lula contradizem seus atos. Ninguém fala nada no PT sem está autorizado por seu chefe; o homem está fazendo jogo duplo. Quer um novo movimento queremismo, como tentou Vargas em 1945, e quase conseguiu.

Lula não quer ser candidato em 2010. Mas é claro que se o povo pedir…

Lancelotti, protegido por sua ideologia

É preocupante a tomada de parte da Igreja Católica por ideologias, notadamente a de esquerda. O atual papa foi contundente em suas mensagens: a Igreja não participa de processos políticos. Pois uma parte, principalmente em países latino-americanos, não dá a menor bola para Bento XVI e participa ativamente do processo político.

Acho inconcebível um padre, ao término da missa, colocar uma urna para votar pela re-estatização da Vale do Rio Doce. E ainda dar “carão” em quem votar contra. Ou um bispo negar palco para o movimento Cansei mas ceder o mesmo espaço para uma “missa” do MST. Considereo ideologia e religião incompatíveis, ainda mais a ideologia de esquerda.

Pois o caso de Júlio Lancelotti é, em si só, uma tese sobre tudo isso. Trata-se de um padre, líder de uma ONG, que defende os menores de rua. Reinaldo Azevedo mostra, em seu blog, os detalhes da atuação do “religioso”.

O jornalismo está blindando o padre descaradamente. Lancelotti foi extorquido durante 3 anos por um ex-interno da FEBEN que ameaçava denunciá-lo por pedofilia. Pagou as prestações de uma Pajero, num total de 16 mil. No fim, acabou procurando a polícia para denunciar a extorsão.

Quando perguntado porque não procurou a polícia de imediato disse:

“Esperava um resultado positivo. Esperava que parasse. Esperava que eu conseguisse tocar no coração deles.”

Mandou ainda o seguinte bilhete para o ex-interno:

“Anderson, te mandei o que é possível. Chega, por favor. Não tenho mais como. Estou sendo investigado. Chega, por favor. Júlio”

Reinaldo Azevedo resumiu bem: dois por favor em um bilhete para um marginal?

Não estou dizendo que o padre tenha realmente molestado ninguém, a questão é ainda mais grave do que isso. Enquanto vimos um rabino ser triturado pela imprensa ao roubar uma gravata, lidamos com o silêncio das redações. Imagine se fosse uma padre ligado à Opus Dei?

Cadê as investigações? Onde estão os depoimentos de ex-internos da FEBEM? Ou do homem que foi preso ao buscar dinheiro para a Pajero? É porque o padre é católico? Não, é porque pertence a uma ONG ligada ao PT. Está sendo protegido pela mídia por suas convicções ideológicas.

O maior absurdo foi a explicação de Lancelotti sobre como deixou ser extorquido da maneira como foi:

“Se Jesus tivesse tomado muito cuidado, não teria morrido na cruz, né? Teria morrido idoso numa cama”.

Pode a Igreja Católica ter um padre assim? Que considera que Jesus morreu crucificado porque não “teve cuidado”? Este homem não pode estar dirigindo uma missa, não pode estar orientando fiéis. Deveria ter honestidade suficiente para largar a batina e cuidar de sua ONG, como militante que é.

É mais um caso que mostra que a grande mídia está dominada pela esquerda, conforme descrito por Hewitt em seu livro. Se não fossem pelos blogs, este caso se resumiria a mínima cobertura, e simpática, que alguns jornais fizeram no dia da prisão do “chantagista”.

A Igreja Católica deveria estar preocupada com a tomada ideológica da sua fé.

Em artigo publicado no Estadão de hoje, Gaudêncio Torquanto trata da decadência moral é ética na sociedade brasileira. O texto é curto e destaca alguns exemplos recentes dos absurdos que, em nosso cotidiano, ganham cada vez mais ares de normalidade.

Remete inicialmente à Montesquieu, que “ensinava que os homens são administrados por um conjunto de coisas, como o clima, a religião, as leis, as máximas dos governantes, os exemplos dos fatos passados, os costumes, as maneiras”. O resultado é o espírito geral de uma Nação, cuja degradação seria representada pela vitória dos vícios sobre as virtudes.

O Brasil se encaixa em um quadro de “quebra da lei e da ordem, anarquia crescente, Estados fracassados, ondas de criminalidade, máfias transnacionais, debilitação da família, declínio da confiança nas instituições, cartéis de drogas, enfim, o paradigma do caos.”

Como o Brasil chegou a este ponto? A resposta é complexa e envolve a superposição de interesses pessoais sobre as idéias, com ênfase na má qualidade da gestão política __ notadamente no executivo e legislativo.

Cenas do cotidiano mostram a inversão dos valores. Em Maringá, um desempregado foi preso após praticar um furto e roubo, e de ter os objetos surrupiados tomados por outros ladrões. Na cadeia, clamava por policiamento, fazendo uma distinção entre o roubo que praticou e o que foi vítima, um uma lógica de conveniência, a mesma praticada pelos atores políticos. Cita também Wellington Salgado, pego sonegando milhões de impostos quando dirigia uma Universidade de sua família. E o absurdo artigo do rapper Ferréz, aquele que defendeu o roubo do rolex de Luciano Huck como um acordo bom para ambas as partes.

E ainda tem o inacreditável caso envolvendo o presidente do Senado, contribuindo para afundar ainda mais o Legislativo. O Executivo não fica atrás, na luta para manter a CPMF ao mesmo tempo que não consegue controlar uma epidemia de dengue. O próprio presidente mostra sua lógica de conveniência ao atacar a privatização de ferrovias no mesmo dia em que fazia a de algumas rodovias e elogiar como exemplo de democracia a de um ditador que, há 20 anos, esmaga um país miserável de 10 milhões de analfabetos.

Conclui com a constatação que os valores do passados estão adormecidos, e que para despertá-los necessita-se da indignação, da mobilização de cidadãos ativos e pressão das ruas.

Torquato sintetiza bem algumas de minhas próprias idéias. Coloco uma ênfase especial na “mobilização dos cidadãos ativos”. Entendo como manifestações espontâneas, como as que tem sido convocadas pela internet pelo Brasil afora. Nada de dinheiro público ou mobilização de estruturas financiadas pelo estado para fazer baderna como sempre se fez no Brasil.

Mas o principal é devastação dos valores morais da sociedade. Hoje em dia, quem defende virtudes é ridicularizado, tratado como um irrealista. É a maior constatação da vitória do relativismo moral e a ausência de lógica no trato destas questões. É o que leva um homem a roubar e ser roubado, tratando os dois roubos com princípios morais diferentes.

É o retrato de um país que não deu certo. Ainda dará?

Imposto Sindical

Ainda no início de seu primeiro governo, Getúlio Vargas percebeu a importância de controlar os sindicatos de trabalhadores.

Desde o início da República, a indústria desenvolvia-se ao redor da economia cafeeira, estimulada, principalmente, pelos lucros dos barões do café. A Primeira Guerra Mundial impulsionou ainda mais esta indústria ao fechar temporariamente o mercado externo. Uma das conseqüências foi o desenvolvimento de uma classe urbana e a imigração.

Pois coube justamente aos imigrantes, muitos com experiência sindical em seus países de origem, a primeiro organizar os sindicatos. Inicialmente houve a ação dos anarquistas, que desejavam sindicatos descentralizados e sonhavam com uma nação sem governo. Posteriormente, o comunismo chegou com toda sua força, disputando com os anarquistas o poder nos sindicatos.

Vargas percebeu que se não assumisse o controle teria um grande problema nas mãos. Não bastava uma legislação que beneficiasse pura e simples os trabalhadores, precisava de um instrumento de controle. Foi quando foi instituído o imposto sindical.

Os recursos eram centralizados no Ministério do Trabalho e, então, distribuído às centrais sindicais. Rapidamente estas centrais tornaram-se dependentes dos recursos, e por tabela, do Ministério. Os líderes passaram a se aliar a alta burocracia do Ministérios, e não aos trabalhadores que representavam. Surgia na política nacional os “pelegos”.

Ontem a Câmara dos Deputados aprovou o fim da obrigatoriedade do imposto. Pela proposta cabe ao trabalhador o direito individual de decidir se paga ou não o tributo. Isto obriga os sindicatos a convencer os trabalhadores de sua importância, e mostrar serviço a eles. É uma medida acima de tudo burocrática.

Os sindicatos, obviamente, já iniciaram uma campanha de demonização dos deputados que aprovaram o projeto de lei. O presidente da república __ sempre com minúsculas __ já se posicionou contra. Existe boa chance do Senado não aprová-la, e caso contrário, Lula II exercerá seu direito de vetá-la.

Até aí tudo mais ou menos democrático. O mais ou menos é pela tática fascista dos sindicatos de pressionar os deputados. O problema é o que acontece depois do veto. Vai para a gaveta do presidente do senado __ também com minúsculas __ que exerce seu “não direito” de não colocar o veto em votação, dando na prática o poder ao chefe do executivo de só aprovar as leis que quiser. É mais uma violação do princípio das independência dos poderes.

O imposto sindical é uma herança do estado totalitário de Vargas, essa sim a verdadeira ditadura que existiu no Brasil. Não se está extinguindo o tributo, apenas está colocando a questão como um direito do trabalhador, e não um dever. Por que temem tanto a liberdade de escolha?

A pequena Michele e o aborto

Confesso que não queria escrever sobre a pequena Michele, o bebê que foi abandonado pela mãe em um rio poluído de Belo Horizonte e terminou falecendo na UTI de um hospital com infecção generalizada e edema cerebral.

Fico imaginando aquela equipe de médicos e enfermeiras que tentou de todas as formas salvar a menina. O seu nome foi dado pelos funcionários da UTI. Não consigo pensar neste nefasto acontecimento sem sentir profunda tristeza; a morte de uma criança, um bebê, é diferente. Ali não podemos deixar de pensar em toda uma vida que haveria pela frente, com seus dramas, suas conquistas, vitórias e fracassos.

Mas lendo o artigo de André Petry na Veja da última semana em que defende que se houvesse a legalização do aborto tal fato não teria acontecido resolvi escrever o que penso. Seria essa a única solução para evitar um fato desses? Será que não existem soluções melhores?

Sei lá, não sou ninguém para julgar. Um pessoa que faz um coisa dessas encontra-se fora de qualquer conceito de normalidade. Desespero, dor, ódio. Tudo isso deve ter passado pela cabeça dela, e coisas que nem imaginamos. Mas este é uma caso extremo, e assim acho que deve ser tratado.

O que não concordo é a afirmação do autor que “legalizar o aborto, além de tudo, também é forma de tratar as brasileiras com alguma igualdade“.

Quer dizer que quando se mostra que a quantidade de homicídios praticados por pessoas de classe mais baixo são superiores ao de classes mais altas devemos tirar o homicídio do código penal? E permitir o furto e o roubo? Ser tolerantes com o tráfico de drogas?

Não existem outras soluções? Acompanhamento social? Um programa para entrega do bebê para adoção?

Quando morava no interior do Pará abandonaram um bebê no esgoto da cidade. De manhã foi noticiado pela imprensa. Na hora do almoço uma pessoa que trabalhava comigo já estava dando entrada no processo de adoção. E não se sabia ainda se o recém-nascido sobreviveria!

Argumentam que deve-se levar em conta o país em que vivo. Acompanhamento social e programas são coisas de países ricos. E quanto sairia para a saúde pública uma rede oficial de abortos? Todos os médicos seriam obrigados a praticá-lo? Mesmo contra suas convicções? Este mesmo país, para os que advogam que o aborto seria uma solução mais prática, não consegue distribuir preservativos a todos. E se nem dá conta da quantidade de esterilizações que é solicitado, dará conta da quantidade de abortos? Com que qualidade? E dará o necessário acompanhamento psicológico?

Vivemos num estado que arrecada quase metade do que é produzido no país. E não consegue dar conta de necessidades básicas como educação e saúde. Uma rápida lida nos jornais mostra isso, o estado está voltado para a economia, para ser o grande ator econômico. Está preocupado em fazer concorrência com empresas privadas, e participar ativamente do mercado. E o resultado está aí, políticas sociais que se resumem em distribuição de esmola.

A pequena Michele não merecia ser jogada dentro de um rio para morrer. Ninguém merece um destino destes. Não foi lhe dada uma chance de viver, por pior que lhe fosse essa vida.

Em minhas dúvidas e questionamentos estarei sempre a favor dessa chance, por menor que seja.

Privatização

A falta de vergonha e qualquer tipo de ética do petismo e simpatizantes foge a qualquer definição. E esta semana se mostrou mais uma vez em um tema que a oposição se recusa a defender: as privatizações.

Nas últimas eleições o candidato-presidente demonizou seu adversário acusando-o de privatista, como se fosse o maior dos pecados, e de ter participado do governo que vendeu o Brasil. Alckmin fez sua parte, e não foi pequena, no seu próprio calvário. Ao invés de defender os muitos benefícios das privatizações realizadas se transvestiu de estatista e jurou que não privatizaria nada. Fez duas besteiras de uma só vez: não convenceu ninguém e pior, passou a imagem que a privatização realmente era um mal em si.

Esta semana o governador de São Paulo quis saber o valor de mercado de uma estatal. O pestismo, sempre valente para com os outros, foi às ruas para protestar. Serra estava querendo privatizar!

Ontem o presidente-candidato(se não é parece) condenou o governo FHC, Freud explica, sobre a privatização das rodovias federais.

Ao mesmo tempo, na bolsa de valores, seu governo privatizava 7 lotes de… rodovias federais! E 6 delas foram para grupos estrangeiros! É ou não é uma falta de vergonha e de ética? O petismo não tem nenhum princípio. O que é feito por eles é bom. A mesma coisa feita por outros é uma mal. Simples assim.

E cadê as oposições? Silêncio ensurdecedor. Só não maior do que a CUT, MST, PT, UNE, Pastoral de Terra, ….