Aborto agora é na surdina

A proposta de discussão sobre a ampliação dos casos de liberação do aborto recebeu freio do presidente ontem. O governo percebeu que é uma causa polêmica e que já parte com mais da metade da população contrária à idéia.

O curioso é que parte da mídia acusava justamente os contrários ao aborto de não desejar discutir o assunto. No programa Roda Viva o próprio Temporão admitiu que as ONGs que defendem o aborto reclamaram da possibilidade de um plebiscito. Temem a manifestação inequívoca da sociedade.

A estratégia do governo agora é aprovar lentamente esta liberação no Congresso, e na surdina, de preferência sem holofotes. Esta é a idéia que a esquerda sempre fez de democracia. Vale a pluralidade de opiniões, desde que todas estejam de acordo com o pensamento “progressista”.
Só vale a pena escutar a sociedade quando se tem certeza da resposta. Caso contrário vale as “lideranças” ou “representantes” da sociedade civil.

Menos mal que o DEM resolveu comprar a briga e se posicionou na questão. É contra a ampliação da lei atual. E denunciou a estratégia do presidente recusar em assumir uma posição para não enfrentar o contraditório. A oposição agora tem um à favor (PPS), um contra (DEM) e um, que para variar, não sabe que posição tomar (PSDB).

Integração religiosa?

O presidente defendeu diante do papa uma maior integração religiosa na américa latina. Nem o papa, nem ninguém entendeu a sabedoria do nosso guia. Talvez nem ele. Isso depois de ter repetido um novo mantra que aprendeu recentemente, a palavra “laico”.

Tudo para ele agora é laico, embora tenha minhas dúvidas se saiba exatamente o que signifique. O fato é que Bento XVI deixou bem claro que a Igreja não deve se envolver com a política, o que foi mais uma tapa na cara da excrescência que é a Teologia da Libertação.

A posição do Vaticano é de defesa dos mais pobres, principalmente nos valores espirituais e morais. A Igreja não pode se comportar como um partido político, sob pena de perder autoridade moral ao identificar-se com visões parciais do mundo.

Para Bento XVI a posição da Igreja é universal, vale para cada católico em cada parte do mundo. Por isso deve ter ficado surpreso esta tal integração latino-americana. Com certeza mais um assunto para um cafezinho entre Lula, Chaves e Evo. Sob as bençãos de Fidel.

Livros: consuma com moderação

Do blog do Reinaldo Azevedo:

Vocês se lembram: apontei aqui o seu desconforto diante do papa. Ele não conseguiu ser a estrela da festa. E isso lhe é inaceitável. A sua obsessão em desmerecer FHC é uma evidência desse traço de personalidade. Observem que, quando ele se refere ao antecessor, não se limita a dizer que seu governo é melhor. Ele também costuma atacar as qualidades intelectuais do outro, que seriam insuficientes para responder à realidade. Lula acredita, firmemente, que ele sabe mais porque leu menos. Lula acredita que estudo faz mal à saúde. “Livros: consuma com moderação”.

Outro dia estava conversando nos corredores da PG justamente sobre isso. Não é vergonha para ninguém a própria ignorância, o problema é começar a se vangloriar dela. Mas não tinha ainda me atinado para os que fazem pouco dos que procuram sair das trevas. Estamos retrocedendo vertiginosamente no Brasil, está surgindo a cultura da ignorância.

O exemplo vem, entre outros, do próprio presidente. Para não ficar só no atual, lembro de Costa e Silva que se vangloriava de não ler livros, apenas fazer palavras cruzadas.

Diante do papa, Luis II ficou visivelmente constrangido. Diante dele estava um homem de 80 anos que passou a vida inteira estudando e se preparando para o cargo que hoje ocupa. Pois nosso monarca nunca fez nem uma coisa nem outra. E se orgulha disso.

Só falta uma campanha publicitária alertando para os perigos da leitura…

Nota do PPS

O PPS se posicionou à favor da liberação do aborto. Está em seu direito e aplaudo por assumir sua posição. Todos os partidos políticos deveriam seguir o exemplo. Mas não posso deixar de comentar a nota do partido.

Primeiro o partido considerou uma “interferência indevida da igreja nos assuntos do Estado” a decisão de excomungar os políticos mexicanos que votaram a favor do aborto no parlamento daquele país.

Não é. A excomunhão não tem nada a ver com estado. É uma questão interna da Igreja e da fé católica. Nenhum direito civil dos parlamentares mexicanos está ameaçado. Segundo o dicionário Houaiss a excomunhão é a “penalidade da Igreja católica que consiste em excluir alguém da totalidade ou de parte dos bens espirituais comuns aos fiéis“. A Igreja considera que a posição contrária ao aborto é um bem espiritual que deve ser seguido por seus fiéis. Como líder religioso o Papa pode excomungar quem não esteja de acordo. Ninguém é obrigado a ser católico, é porque quer. Observem que a excomunhão nem exclui uma pessoa da Igreja, apenas atesta que ela não segue em parte ou na totalidade um bem espiritual comum.

Uma parte do texto diz o seguinte:

“Para o PPS, bem como para grande parte da população brasileira, soou estranha a declaração do papa de condenação aos que pretendem abolir a legislação punitiva ao aborto, chegando ao ponto de admitir a excomunhão de políticos que votarem pela sua legislação”

Primeiro esse “grande parte da população brasileira”, da onde o partido tirou isso? Duvido que chegue a 5% da população os que sabem desta excomunhão. E olhe lá. Vai ver que este grande parte é a meia dúzia que se reuniu para fazer esta nota.

O partido saúda a visita do papa, “que traz conforto espiritual a milhões de católicos brasileiros“, mas alerta que isso não pode trazer prejuízos às “conquistas humanistas seculares” do povo brasileiro.

Agora embolou tudo. Mais uma vez o aborto é referido como um avanço “humanista” da sociedade. Mas o delírio do PPS é ainda maior, é uma “conquista humanista secular” do povo brasileiro. Acho que acordei no país errado. A maioria da população brasileira é contra o aborto, que conquista secular é esta?

O que fico intrigado é que reconheço que existem bons argumentos para defender a liberação do aborto, apesar de não concordar com eles. Se a estratégia é abrir guerra contra a Igreja e apoiado em opiniões deste nível, vou até dormir tranqüilo pois não aprovam o aborto num plebiscito nem por milagre.

E olha que milagreiro no Brasil tem muito…

Números

Temporão voltou a falar do número mágico de 1,1 milhões de abortos segundo um instituto americano. Também já tratei aqui no blog, o instituto é no mínimo suspeito já que é ligada a uma rede de clínicas de aborto. Só que o ministro acrescenta que este número seja 5 vezes maior. Da onde esse pessoal tira esses números? Se ele dispões de estatísticas levantadas que o divulgue como deve ser feito e não fique chutando números.

Uma Lástima

O governo brasileiro está fazendo tudo o que pode para transformar a visita do papa em um espetáculo de grosseria e vulgaridade. Só não consegue porque do outro lado existe um homem que se preparou e estudou durante toda sua vida para exercer a sua função.

Coube ao Ministro da Saúde o papelão maior até aqui. Já comentei neste blog de sua entrevista no Roda Vida. Nela saiu-se muito bem, apesar de não ter concordado com seus argumentos em defesa da “discussão” sobre a legalidade do aborto.

Por que “discussão” está entre aspas? Porque ao ler o JB de ontem fiquei estarrecido com a idéia que Temporão tem deste debate.

Para início de conversa foi taxativo. O aborto não é questão que envolva filosofia e religião, é saúde pública. Então estamos gastando dinheiro sem necessidade. Dengue? Taca fogo! Um bom incêndio controlado resolve qualquer epidemia como provaram os europeus na Idade Média. Resolve o problema de saúde. É claro que vão morrer alguns milhares ou milhões, mas isto é questão de filosofia. Ou de religião.

Depois ainda sai com mais uma pérola. A discussão é machista. Disse que se homem engravidasse o problema já estaria resolvido. É um dos piores argumentos que já escutei em toda minha vida sobre o assunto. E vindo de um ministro de estado, devidamente preparado para o cargo, é mais revoltante ainda. Tem mil maneiras melhores de defender o aborto como um direito de escolha da mulher do que usando um palavreado de bar da esquina como este. Nenhum dos mil convenceu-me até hoje que um ser humano pode ter direito de escolha sobre a vida de outro.

Por fim resolveu, no dia da chegada do papa, criticar a decisão de Bento XVI de apoiar os bispos mexicanos que excomungaram políticos daquele país que lutam pelo direito de abortar. Alguém deve lembrar ao prezado ministro que trata-se de um chefe de estado, e um ministro criticar suas decisões durante uma visita oficial é uma grosseria diplomática sem tamanho. Não vejo o governo brasileiro criticar Fidel Castro nem de longe, quanto mais em visita. E olha que o ditador cubano faz aborto de seres humanos na idade adulta!

Por fim, na conversa oficial entre os dois chefes de estado o presidente levou a primeira companheira. Não lembro de ter visto o nome desta mulher na cédula eleitoral. Educadamente, o papa comentou que este fato é inédito em sua vida. Uma coisa que aprendi a duras penas é que quase tudo (e estou sendo bondoso) que é inédito por aqui não costuma ser boa coisa. É claro que tratava-se de um troco do presidente brasileiro pela audácia do papa em defender a posição da igreja em sua chegada ao Brasil. E isto de um homem que diz que pessoalmente sempre foi contra o aborto…

Quer saber? Está mais do que na hora do parlamento brasileiro aprovar um plebiscito sobre o tema. Quero ver essa gente na televisão. Quero ver a cara de Temporão, Lula, e tantos outros na telinha defendendo suas posições. E deixem a população expressar a sua. Aproveitem as eleições municipais do próximo ano. Só não vale pergunta manipulada.