As charges revelam muito sobre o cotidiano no país. Hoje vendo as dos principais jornais do país, como a do post abaixo, fica claro que a operação Navalha já foi fortemente associada ao Congresso Nacional. Várias trazem sua imagem, mas nenhuma traz a do Palácio do Planalto ou da esplanada dos Ministérios. Mais uma vez, com sucesso, o executivo joga a bomba para o outro lado da praça dos 3 poderes. Não é de admirar que a corrupção aparentemente sem fim não cole na imagem do governo. E a imprensa tem parte da culpa.
O tema que ganha destaque é uma CPI para investigar a participação de parlamentares no esquema de desvio de verbas para a empreitera Gautama. Longe de serem inocentes, os parlamentares envolvidos não são os principais atores da bandidagem.
A origem do desvio está nas emendas individuais. Cada parlamentar tem direito a 5 milhões em aprovação automática. Isso todo jornal diz. O que não diz é que o Governo contigencia estas emendas e as libera de acordo com os critérios próprios. E é aí que entra de forma mais forte o esquema.
Cabe aos ministérios liberar estas emendas. O parlamentar, sem o governo, não consegue colocar um níquel nas mãos dos corruptos. Já ao governo cabe não só liberar, como gastar e fiscalizar. Onde está então a principal fonte de corrupção?
Por isso os partidos políticos disputam (da pior forma possível) os cargos em primeiro, segundo, terceiro e demais escalões. Cada cargo deste tem um rubrica que libera parte do orçamento. E esta é na verdade uma das principais causas do estado de coisas que chegou o Brasil.
É a confusão do público com o privado. O partido dono da indicação passa a ser “dono” do cargo e da rubrica. Privatiza-se a função e vivemos na ilusão que temos serviços públicos. Não temos, nossas agências, estatais e repartições são privatizadas a cada governo para os partidos que apóiam o presidente. Em todos os casos o principal corruptor é o governo federal, e o principal responsável é o que senta na cadeira do Palácio do Planalto.
Mas qualquer crise estoura em cima do Congresso, que não por acaso aceita este papel. No máximo coloca culpa na mídia e ultimamente deu para querer processar jornalistas. Desta forma fica a imagem que o governo salva o país das atrocidades parlamentares. E o povão fica extasiado vendo as imagens dos bagrinhos sendo algemados na televisão nas cada vez mais suspeitas operações da PF.
E segue a vida.