Por que?

Hoje estava voltando de minha corrida quando cruzei com um senhor barbado que volta e meia está na pista Cláudio Coutinho. Sempre repara em suas camisas, já vi do PSTU, do PSB, do Botafogo e do PC do B. Tirando a do Botafogo, as outras já dão uma idéia do que vai pela cabeça do homem.

Hoje ele estava com uma da União Soviética, com os antigos dizeres CCCP.

Parecia uma cena normal, mas vi desta maneira. Fiquei imaginando se algum imbecil resolvesse desfilar com uma camisa da SS nazista. Em muitos países seria até crime, afinal os nazistas mataram milhões de pessoas desarmadas e sem direito à defesa.

Mas a União Soviética também matou milhões de pessoas desarmadas sem direito à defesa. Por que então somos tolerantes com os crimes comunistas? Não defendo a tolerância ao nazismo, muito pelo contrário, defendo a intolerância com ambos, nazistas e comunistas.

Aliás este é um dos temas do livro que estou lendo, “A Grande Parada” de François Revel. O autor faz um paralelo entre as duas ideologias e as semelhanças são gritantes. E nem poderia deixar de ser uma vez que Hitler foi profundamente influenciado pela obra de Marx e a revolução de Lenin.

Mas a União Soviética combateu o nazismo, dizem uns. Combateu porque foi atacada, pois até aquele momento tinha um pacto com Hitler e inclusive participou da invasão da Polônia. Após a rendição polonesa cumprindo ordens de Stalin 21.857 oficiais do país ocupado foram fuzilados em 1939 no episódio esquecido de Katyn.

Outros dizem que Stalin traiu os ideais de Lenin, outro que vejo o rosto em muitas camisas. Outra mentira. O número de vítimas da benevolência leninista é calculado em torno de dois milhões e meio de mortos no período entre 1918 a 1920.

Existe uma crença que o comunismo soviético não é o socialismo ideal sonhado por Marx. Quanto mais eu leio mais eu me convenço que foi exatamente o que o ideólogo alemão previu. Reforça-se ainda o fato de todas as experiências socialistas, em todos os cantos do mundo, terem sido acompanhada do totalitarismo e o massacre de cidadãos pelo estado.

A diferença é que o nazismo saiu de suas fronteiras, o comunismo se contentou em eliminar sua própria gente. Não consigo identificar qual é mais ou menos cruel do que o outro. Mas ainda tem gente que defende o direito de um povo massacrar o próprio povo.

Outro dia discutindo sobre a ocupação no Iraque argumentaram comigo que os Estados Unidos tinham que sair hoje. Retruquei que se assim o fizessem, haveria um banho de sangue entre os iraquianos no dia seguinte. Mesmo assim, me responderam, o problema passa a ser do Iraque.

Até que ponto nossos ódios ideológicos nos cegam a ponto de fechar os olhos para a morte de inocentes? Quanto demorará para se reconhecer definitivamente que a experiência comunista foi um crime contra o povo russo? Basta lembrar que este regime encontra defensores fiéis no Brasil, na França, na Espanha, menos onde foi implementado.

Aquele senhor caminhando normalmente na pista hoje afrontou a memória de milhões de mortos. Que ele se prenda ao socialismo ideal, vá lá, acho um erro. Mas que ele faça propaganda o socialismo real, que foi a URSS, aí já é demais.

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