Tem como ir para frente?

Do blog do Reinaldo Azevedo:

A avaliação de Lula será sempre tanto melhor quanto mais o Congresso enfiar o pé na jaca. E o nosso adora andar com a sola lambuzada, não é mesmo? Ou então vejamos:
– Ontem, os patriotas decidiram que não se vota mais nada às segundas-feiras. A medida fazia parte de um esforço moralizante de Arlindo Chinaglia (PT-SP). Moral no PT é como vôo de galinha: curto, grosso e desajeitado;
– Esses brasileiros exemplares também decidiram elevar os próprios salários de R$ 12.847 para R$ 16.520 — reposição da inflação — tão logo se votem as MPs do PAC;
– A Mesa da Câmara se reúne hoje para discutir a elevação da verba para a contratação de assessores: de R$ 50,8 mil para R$ 65,1 mil por mês. Não sei se entendem: os deputados tinham decidido elevar seus salários para R$ 24,5 mil, elmbram-se?. A sociedade reagiu. Sensíveis, eles recuaram. Reparem: naquele caso, o aumento seria de R$ 11.653. Agora, eles pleiteiam uma elevação salarial de modestos R$ 3.673 e uma ampliação da verba de R$ 14,3 mil. Ou seja: assustados porque a sociedade protestou contra a mordida de R$ 11.653, eles, então, resolveram deixar por R$ 17.973. E trabalhando menos. Entendeu, leitor?

Ah, mas isso é para contratação de assessores! Sei. Entendi. É para o nosso bem. Por falar nisso, Luiz Sérgio (RJ), líder do PT na Câmara, justificou a suspensão das votações às segundas dizendo que os parlamentares precisam ouvir suas bases; que seria até mais cômodo ficar em Brasília. Ou seja: também é em nosso benefício. Vamos implorar aos deputados que parem de cuidar de nós.

Na prática o protesto generalizado com o aumento de salários dos deputados no fim do ano passado gerou uma solução: concede-se o aumento, só que escondido. E como vingança diante das críticas o aumento será ainda maior. A consulta às bases é ainda mais ridícula. Quem é a base do deputado? 95% foram eleitos pelos votos de sua legenda e muitos deles possuem um pequeno número de eleitores que não se consegue nem precisar de onde são. Mais uma vergonha patrocinada por nossos gloriosos representantes. A solução? O voto. Mas querer que nossa população oprimida pelo obscurantismo intelectual consiga votar com consciência é ainda um sonho muito distante.

A Atitude da Aeronáutica

Por Otávio Cabral e Diego Escosteguy (Revista Veja):

O que levou o presidente Lula a ceder tão gentilmente aos controladores de vôo amotinados nos aeroportos do país no dia 30 de março, concordando em dar-lhes
compensações salariais e revogando-lhes uma ordem de prisão dada pela cúpula da Aeronáutica? O que levou o presidente Lula, dias depois, a chamar os controladores de irresponsáveis e traidores, cancelando correções salariais e autorizando prisões em caso de nova rebelião? Em sua explicação pública para tamanha guinada, Lula saiu-se com justificativas contraditórias. Primeiro, disse que, ao saber do motim dos sargentos, estava a bordo do Aerolula rumo aos Estados Unidos e não recebera um “quadro completo” da situação. Depois, encarregou seus assessores de espalhar que o recuo se explicava porque, no auge da crise, não tinha alternativa além de ceder aos controladores, sob pena de manter os aeroportos do país paralisados. Por fim, em reunião com aliados no Palácio do Planalto, disse que se sentia “traído” pela categoria. “Fui apunhalado pelas costas. Esperaram eu sair do país.” O que Lula não disse é que o principal motivo de ter mudado tão radicalmente de posição foi outro: os militares peitaram o presidente – e ganharam a parada.

Assim que teve sua ordem de prender os controladores de vôo cancelada por Lula, o comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Juniti Saito, reuniu-se com um grupo de oficiais, assessores jurídicos e dois representantes do Superior Tribunal Militar (STM). A reunião aconteceu no 9º andar do prédio da Aeronáutica, na Esplanada dos Ministérios. Na discussão, ponderou-se que a decisão de Lula poderia resultar numa acusação por crime de responsabilidade. Afinal, no artigo 7º da lei que define crime de responsabilidade prevê-se punição para a autoridade que venha a “incitar militares à desobediência à lei ou infração à disciplina”. Com essa poderosa ameaça na manga, o brigadeiro convocou outra reunião, para a manhã seguinte, com os nove brigadeiros que compõem o alto-comando. Nesse encontro, discutiram como ampliar o arsenal para enfrentar Lula. A primeira decisão foi que o Ministério Público Militar, afinado com a cúpula da Aeronáutica, processaria os rebelados, a despeito das promessas do presidente de que não haveria punição. “A punição dos grevistas sempre foi questão de honra. Não voltaremos atrás nem com ordem do papa”, disse a VEJA um integrante do alto-comando.

Na mesma reunião, os brigadeiros decidiram ainda resistir a outra reivindicação dos sargentos amotinados que Lula mandara atender: a desmilitarização do controle de tráfego aéreo. Atualmente, os controladores de vôo e os responsáveis pela defesa aérea compartilham uma parte dos equipamentos. Os militares decidiram, ali, que os equipamentos passariam a ser usados somente pela defesa aérea. Também decidiram suspender o treinamento de novos controladores, uma tarefa hoje exclusiva da Aeronáutica, e listaram os benefícios que mandariam cortar dos rebelados: moradia funcional, transporte de casa para o trabalho, assistência médica e alimentação – tudo, hoje, cedido pela Aeronáutica. Por fim, Saito disse que, se Lula mantivesse a decisão de ceder tudo aos amotinados, ele entregaria o cargo. Os demais presentes – com uma só divergência, a do brigadeiro José Américo dos Santos – também disseram que entregariam o cargo ao presidente. “Olha só a situação em que eu cheguei”, comentou o brigadeiro Saito. “Posso ser o comandante da Aeronáutica com a permanência mais curta da história.”

A Aeronáutica salvou o governo no festival de bobagens feitas nos últimos 6 meses, que culminou na atitude desastrada de sexta-feira. É claro que o presidente está agora tentando pegar carona nesta onda, faz parte da política. Mas quem tem um mínimo de espírito crítico sabe que ele fez bobagem e se não fosse a atitude firme da Força (Armada, não sindical) teríamos uma crise institucional grave. O resto fica para história.

Como se faz um "sábio"…

Sexta feira o Presidente da República ficou de joelhos diante da chantagem feita pelos controladores. A imprensa aparelhada pelo petismo partiu em socorro do Nosso Guia classificando sua atitude na crise como de um autêntico líder. Sim, Lula cedeu a todas as exigências, mas debelou a crise. Se feriu a hierarquia, paciência. Na política não se pode agradar a todos, bradaram.

Vejam o que escreveu Kennedy Alencar:

Apesar da série de atitudes equivocadas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo da crônica crise da aviação civil, foi acertada a decisão de negociar com os controladores de vôos militares que se amotinaram na sexta-feira (30/03). (…) Entre preservar uma hierarquia militar que já estava mais do que quebrada e colocar fim o mais rápido possível ao caos, Lula não hesitou (…) E a hierarquia militar? Ora, os militares têm quebrado essa hierarquia desde a criação do Ministério da Defesa no governo FHC. Boicotaram todos os seus chefes civis (…) Existe até um lado positivo na desautorização do comandante da Aeronáutica. Ainda que não tenha tido esse objetivo, a decisão de Lula quebrou de vez o tabu do fantasma militar numa hora simbólica: véspera do aniversário de 43 anos do golpe que instaurou a ditadura de 1964.

Parte da mídia adotou esta linha. Lula tinha “enquadrado” os militares e reforçado o comando civil sobre as Forças Armadas. Mais um exemplo da sua genialidade.

Só esqueceram que o Ministério Público Militar é independente. E o MPM tomou a atitude que devia ter tomado. Oficiou o Comando da Aeronáutica para abrir o Inquérito Policial Militar para apurar o crime. Mas Lula não tinha se comprometido a não punir os controladores? Tinha, mas não tem poder, graças a Deus, para evitar a ação da Lei.

Mas o presidente (com “p” minúsculo mesmo, faço questão) soltou mais uma carta da manga. Disse que nunca tinha se comprometido com os controladores. Quem se comprometeu foi Paulo Bernado, Ministro do Planejamento. Ah… bom.

Novamente a petralhada soltou a nova versão. Lula teria na verdade “enganado” os controladores para resolver a crise. As manchetes agora são que ele “recuou” no que tinha cedido. Não recuou um milímetro. Apenas está pegando carona numa atitude do MPM como se fosse sua. Nisso ele é mestre. E os jornalistas “companheiros” tem que trabalhar dobrado para novamente provar a genialidade de seu “mestre”.

O controle aéreo no Brasil não é feito apenas por militares. Existem também civis, que inclusive possuem sindicato. Na página do Sindicato nacional dos Trabalhadores na Proteção do vôo pode-se ler, entre outros, o que se segue:

O capitalismo
Vivemos numa sociedade capitalista.
Na sociedade capitalista, existem muitas desigualdades. Basta ter olhos para ver. Uma minoria de pessoas concentra grande quantidade de bens materiais em seu poder: dinheiro, propriedades, mansões, carros, muita fartura e luxo. Por outro lado, a maioria das pessoas tem apenas o mínimo, e às vezes menos que o mi¬nimo, para sobreviver. Vivemos apertados em matéria de alimentação, casa, roupa, transporte, escola, saúde e lazer etc. Vemos também tantas conseqüências trágicas desta sociedade: subnutrição, mortalidade infantil, doenças endêmicas, menores e idosos abandonados, desemprego, prostituição, analfabetismo, crimina¬lidade, acidentes de trabalho, favelas . . .
É verdade que entre os dois gru¬pos existem camadas médias, que costumamos chamar de “classe média”. Mas esta “classe média” não é uma classe fundamental, quer dizer, não é ela que determina a natureza da sociedade capitalista.

A mercadoria e seu valor
Na sociedade capitalista, vivemos rodeados de mercadorias. Alimentos, roupas, eletrodomésticos, arte, diversões, e até as próprias pessoas estão aí para ser comercializadas.
Mas como é a natureza da mercadoria? Como é que mercadorias que são tão diferentes entre si, como, por exemplo, arroz e sapatos, podem ser trocadas umas pelas outras, em certas proporções?
A mercadoria, antes de tudo, é um objeto que tem um duplo valor: o valor de uso e o valor de troca.
O valor de uso se baseia na qualidade própria da mercadoria, depende da necessidade e até do gosto de cada pessoa. Por isso, o valor de uso não dá para ser medido.
Acumulação do capital
Para conseguir taxas de lucros maiores, interessa aos capitalistas pagar salários baixos e aumentar a produtividade dos trabalhadores, além de evitar despesas que melhorariam as condições de trabalho e de vida dos operários (segurança, salubridade etc.). Evidentemente os interesses dos trabalhadores são contrários a estes. Então há uma luta constante entre as duas classes.
Vimos que o capitalista está sempre interessado em obter lucros, isto é, em extrair mais-valia do trabalhador. Mas para quê? Acima de tudo para ACUMULAR CAPITAL.
Claro que ele vai tomar uma parte do lucro para atender às suas necessidades, confortos e caprichos. Mas não é este o objetivo principal do capitalista, e sim a acumulação de capital, que além de ser um desejo dele, é também uma necessidade de cada capitalista, visto que se trata de uma sociedade de rígida competição

A Luta dos trabalhadores
Já vimos que há uma luta permanente entre burgueses e proletários, porque seus interesses econômicos são antagônicos. Os burgueses lutam para aumentar sua taxa de lucro. Para isto procuram, sempre que podem: rebaixar o salário real dos proletários; aumentar a produtividade pelo aumento da jornada de trabalho pelo aumento do ritmo do trabalho e também pela introdução de novas tecnologias; explorar, ainda mais, o trabalho da mulher e do menor; evitar despesas com a melhoria das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores etc.

Pois é essa “cathiguria” que vai controlar o espaço aéreo brasileiro. Os controladores merecem, ou mereciam, salários melhores do que recebem. Mas sou contra a tese que com bons salários a baderna termina. O sindicato deixa bem claro que está lutando contra o capitalismo e os “burgueses”. Usam termos como “proletários”, e apoiam-se numa interpretação rasteira do CAPITAL. Vão fazer greve e balburdia seja com que salário for, principalmente se o governo não for de “companheiro”. É só aguardar.

Esta história está longe de acabar

Blog do Cláudio Humberto

O Ministério Público Militar já se pronunciou sobre a punição aos controladores de tráfego aéreo, que fizeram greve na sexta (30), parando os aeroportos do País. Apesar do acordo que pôs fim à greve, firmado entre a Aeronáutica e o governo, o Ministério Público pode continuar o processo para que os eles sejam punidos pela Justiça Militar. O procurador da Justiça Militar Giovanni Rattacaso declarou que o MPM é independente das Forças Armadas, e é obrigado a investigar quando há alguma infração. Para ele, houve quebra de hierarquia e do código militar. O MPM vai abrir inquérito para identificar os controladores que participaram da greve. O procurador chegou a afirmar que o movimento grevista foi um motim. Uma vez aberto o inquérito, os grevistas podem ser punidos mesmo que os controladores de tráfego aéreo passem a ser civis.

Afinal o MPM se pronuncia. O que aconteceu na sexta feira foi crime militar, devidamente tipificado no respectivo código. Nem o Comandante da Aeronáutica nem o Presidente da República podem fazer qualquer acordo que passe por cima de uma lei, no caso uma lei penal. E a justiça não pode ficar a mercê de possíveis desdobramentos do caso. Se o processo judicial causar paralisia no tráfego aéreo do Brasil, que pare. O que não se pode admitir e jogar a lei às favas para garantir uma situação de aparente normalidade.