Armas de fogo

Dado que eu não sabia. Em 2005, ano do referendo, foram vendidas no Brasil a inacreditável marca de 37 armas de fogo. Por este dado podemos concluir que o Brasil é um exemplo de paz social não é mesmo?

Pois recente relatório da ONU coloca o país como o segundo maior na lista de mortes com armas de fogo por 100 mil habitantes. Perde apenas para a Venezuela do companheiro Chavez. Nosso índice é mais do que o dobro dos Estados Unidos, onde armas legais e baratas podem ser compradas em qualquer esquina.

Mais uma tragédia americana

Sinceramente não sei o que pensar destes desequilibrados que vez por outra aparecem nos Estados Unidos. Ontem aconteceu mais um destes momentos que mostram a humanidade em seu pior momento. Trata-se da tragédia na Virginia, onde um homem matou 32 alunos da universidade antes de se suicidar.

O que leva um ser humano a este ponto ainda é um mistério.Estão especulando sem parar e como sempre não chegarão a lugar nenhum. Haverá um inquérito, que é o lugar apropriado para tentar determinar o que aconteceu. E talvez tenhamos algumas respostas.

O Globo parece que ainda não aceitou a derrota no referendo do desarmamento e colocou como manchete principal a questão das armas. Dá até impressão que a arma dispara sozinha, ou que não se consiga comprar uma no mercado negro. O jornal carioca pegou carona de forma lamentável num acontecimento muito triste. Oportunismo barato.

A compulsão de alguns americanos à atirar em seus semelhantes vai muito além do acesso às armas. Jovens desequilibrados e angustiados existem no mundo todo, mas é espantoso que estes casos extremos se concentrem na América. Não há nem um padrão, acontecem em grandes e pequenas cidades, em escolas ou praças públicas, por doentes de todas as classes sociais.

Encontrar estas respostas é muito difícil. Geralmente os atiradores cometem suicídio e não permanecem para respondê-las. O ato começa covarde no assassinato de pessoas indefesas e termina da mesma forma, com a recusa de responder por seus atos.

Temporão no Roda Vida

O ministro da saúde está neste momento no programa Roda Viva da TV Cultura. Como não poderia deixar de ser a primeira questão levantada é o aborto. O ministro defende a discussão da matéria através do plebiscito.

Não entendo porque depois de tomar toda uma linha de raciocínio em defesa da liberação do aborto se recuse veemente a se posicionar à favor do aborto. Por que? Qual o medo de manifestar claramente sua posição?

Seu principal argumento são os estimados 1,1 milhão de abortos no Brasil. Afirmou que não é teólogo e nem filósofo e que portanto sua opinião é unicamente de médico sanitarista.

Reconheceu, no entanto, que a necessidade do aborto decorre de uma série de outros fatores como a falta de informação, educação, fornecimento de anti-concepcionais e preservativos. Disse que o aborto é uma realidade no país e que pílulas abortivas são vendidas em camelôs no centro do Rio.

Pois o que o ministro descreveu foi a total incompetência do governo em prover política de saúde e educação no Brasil. Diante da falta de governo que provoca a ineficácia da lei, defende a supressão da mesma. Ou seja, remover o sofá da sala.

Será que o estado não pode fazer um esforço real para, dentro da lei existente, reduzir esta quantidade absurda de abortos no Brasil antes de propor a liberação do aborto? O próprio ministro, talvez em ato falho, admitiu que o aborto deve ser discutido (e liberado) pela incompetência do governo, que nessa hora é chamada de estado.

Outro ponto que fiquei curioso é como este mesmo estado, incapaz de distribuir preservativos e anti-concepcionais, irá, em caso de liberação, dar conta desta quantidade monstra de abortos na rede pública de saúde?

Se no campo filosófico e religioso sou totalmente contra a prática, a parte sanitária ainda não me convenceu da necessidade do aborto. E por enquanto não chegou nem perto.

Ainda assisti o segundo bloco, em que o tema central foi a dengue. Neste o ministro se saiu muito bem. Afirmou que defende que a administração pública seja feita por profissionais de carreira e que nomeou apenas técnicos no ministério. Reconheceu falhas em sua pasta, o que é raro em se tratando do atual governo. Admitiu também que a gestão do PSDB na pasta foi boa e que por isso manteve os programas iniciados no governo anterior. Segundo Temporão, a política de saúde no Brasil constitui-se política de estado e não de governo.

Enfim a primeira coletiva

Parece que o presidente resolveu finalmente dar sua primeira entrevista coletiva, já passados 3 meses do segundo reinado, digo, mandato. Claro que será nos seus termos. Entrevistadores selecionados(algo como Cruvinel, Noblat, Paulo Henrique Amorim, os “neutros” de sempre), perguntas limitadas e, principalmente, sem direito à réplica. Se tem uma coisa que Lula odeia é ser contraditado. Talvez porque não tenha respostas.

Só para ter uma idéia, já que gosta tanto de comparar com seu antecessor, FHC deu 16 coletivas. Todas com direito à tréplica. O “brucutu” George Bush dava sua vigésima-primeira ao mesmo tempo que “nosso” presidente dava a primeira. Volto à dizer, esta coletiva deveria ser obrigatória e mensal. É o presidente prestando contas à nação, e não concedendo um favor.

Aliás, no primeiro debate com Alckmin, o então candidato-presidente (ou presidente-candidato) perguntou, diante dos ataques do PCC, o que teria dado errado na gestão tucana no governo de São Paulo. Pois ficamos sabendo agora que o único presídio federal construído pelo atual governo e inaugurado com a pompa tradicional, mesmo com 141 presos (capacidade de 208), já está sob o controle de Beira-Mar e do PCC. Será que algum jornalista “neutro” poderia fazer a mesma pergunta ao supremo mandatario? O que deu errado presidente?

Agora a CPI deve sair

O governo se assustou com a possibilidade da CPI do apagão sair no senado. É compreensível. A maioria lá é bem mais estreita do que na Câmara e já estudo abrir a CPI antes mesmo da decisão do STF. Com a maioria que possui poderá fazer relator e presidente e “controlar” a investigação de forma que não se chegue perto da Infraero.

Na verdade o governo, para variar, se atrapalhou todo nesta confusão. O que começou como uma cutucada dos aliados para fazer o presidente se mexer e distribuir alguns cargos acabou se transformando em um problemão. Deveria ter impedido sua base de assinar o documento, o que é legítimo e do jogo. Como não o fez começou o remendo. E como todo remendo sempre sai pior do que o soneto, como diz o ditado. Agora tudo indica que sai de qualquer jeito com o desgaste adicional de tê-la combatido com armas vexatórias. E no pior momento possível.

O Brasil não tem presidente

Do Blog do César Maia:

DOIS HISTORIADORES -EM ENTREVISTAS- ANALISAM A POLÍTICA HOJE TENDO COMO PANO DE FUNDO O CASO DOS CONTROLADORES DE VÔO! EM COMUM: BRASIL NÃO TEM PRESIDENTE!

Trechos.

1. José Murillo de Carvalho na Folha de SP.

a) O presidente cometeu o mesmo erro que João Goulart no trato com militares, o descaso pela disciplina e pela hierarquia. Corrigiu-se a tempo, desautorizando um ministro civil que não tem tanques. O sinal dos tempos é que não foi deposto nem se cogitou isso, mas saiu com a autoridade desnecessariamente arranhada.

b) O episódio revela que, depois de 22 anos de governo democrático, políticos e militares ainda não conseguem falar a mesma língua. A criação do Ministério da Defesa foi um passo à frente. Todos os países o possuem. Mas até hoje ele não decolou, está em permanente apagão. Os ministros civis que o ocuparam nunca tiveram legitimidade para representar as Forças Armadas e menos ainda para obter sua subordinação. O caso do ministro atual chega a ser patético. Sem interlocução eficaz, escaramuças ou mesmo crises podem pipocar a qualquer momento.

c) O apagão de seis meses revelou imensa incapacidade gerencial do governo. A recente crise gerada pela indisciplina dos operadores militares revelou grande inabilidade política. A crise revelou dois problemas não-resolvidos referentes às Forças Armadas: o orçamentário, que afeta salários e o aparelhamento institucional, inclusive para exercer o controle do tráfego aéreo, e o político, que afeta a inserção dos militares na máquina do poder. Sem a solução dos dois, nossa democracia continuará sujeita a chuvas e trovoadas, longe do céu de brigadeiro.

2. Marco Antonio Villa no Estado de SP.

a) Lula não sabe tomar decisões, não fica confortável diante delas. É uma característica pessoal. Em 1980, por exemplo, sumiu de vista em dias decisivos da greve em São Bernardo do Campo. “Cadê o Lula?”, perguntavam todos. Estava em um sítio, perto de uma represa. Foram lá dar uma dura nele e ele reapareceu no dia seguinte, na assembléia da Vila Euclides. Lula tem uma dificuldade de tomar decisões que não começou na Presidência, ficou evidente em todos os momentos-chave de seu primeiro mandato e reapareceu agora, no primeiro trimestre de seu segundo governo. O apagão aéreo é apenas um exemplo de uma lista extensa.

b) O presidente Lula apresenta a lentidão de suas decisões como sapiência, como a elogiável capacidade dos líderes de decidir quando querem, como querem. É um recurso que não resiste nem mesmo a uma análise histórica. Grandes decisões foram tomadas no calor do momento. Se o presidente Lula estivesse no lugar de Dom Pedro I no momento em que recebeu a correspondência às margens do Ipiranga, dificilmente teria proclamado a Independência, provavelmente teria sugerido uma paradinha ali à beira do rio. O presidente acredita que, passando o tempo, as coisas se acomodam sozinhas. Governar não é isso.

c) A indecisão do presidente pode ser boa para ele, mas é péssima para o País.

d) Apostar no esquecimento é uma característica do conservadorismo político. Nos últimos tempos as pessoas têm falado muito da frase do Ivan Lessa, que disse que a cada 15 anos o Brasil esquece de tudo o que aconteceu nos 15 anos anteriores. O governo Lula atua em uma faixa que mistura essa máxima com a lógica de Delúbio Soares, que previu que toda a denúncia do mensalão acabaria em “piada de salão” – e tinha razão. Lula assumiu o segundo mandato e os protagonistas do episódio continuam em lugares importantes dos partidos que atuam junto com o governo. É a vitória do esquecimento.

e) O presidente Lula não gosta de ser um executivo, reunir equipes, levar relatórios para casa, pegar retornos técnicos e, com base nisso, tomar decisões. Nesse sentido, ele não preside. O presidente gosta do poder, é encantado pelo cerimonial do Palácio e por tudo o que é externo ao ato de governar. Gosta de fazer discursos com temáticas pessoais, autobiográficas. Gosta do mundo palaciano em que presidentes jamais são vaiados e exerce uma “Presidência do Espetáculo” que até lembra o Absolutismo, em que tudo é revelado. Nenhum governante sobreviveu à história apenas com sua cota de carisma. A dificuldade para decidir, em um presidente, não é só curiosidade. O País precisa de administradores reais.