Mês: março 2007
"Plaga" do Papa
“Por isso, é mais que justificada a atenção pastoral que o Sínodo reservou às dolorosas situações em que se encontram não poucos fiéis que, depois de ter celebrado o sacramento do Matrimónio, se divorciaram e contraíram novas núpcias. Trata-se dum problema pastoral espinhoso e complexo, uma verdadeira praga do ambiente social contemporâneo que vai progressivamente corroendo os próprios ambientes católicos. Os pastores, por amor da verdade, são obrigados a discernir bem as diferentes situações, para ajudar espiritualmente e de modo adequado os fiéis implicados”.
Esta é a tradução oficial em português do discurso do papa no site do Vaticano. Pois os tradutores oficiais da Santa Fé precisam estudar mais para não errar desse jeito.
O papa utilizou o termo “plaga” em latim para caracterizar o segundo matrimônio. Pois o significado correto é “chaga, ferida, lesão” conforme o Dicionário Latino Português, de Francisco Torrinha. A própria tradução do discurso para outros idiomas no referido site confirma que era este o pensamento do religioso.
Pois a mídia brasileira resolveu cair de pau em Bento XVI por ter comparado o segundo casamento a uma praga. Até a OAB resolveu botar o bedelho na estória, o que não é novidade já que entidade se considera agora representante do povo brasileiro.
Pois Bento XIV é o líder maior da religião católica e cabe a ele orientar o pensamento de sua igreja segundo a moral que sua religião defende. E acabou. Fui católico até cerca de vinte anos e não me considero em condições de ficar criticando a orientação do papa. Suas palavras são dirigidas a seus religiosos e fiéis. Ninguém é obrigado a ser católico.
A Folha de São Paulo de hoje consegue a proeza de comparar o casamento ao futebol. Diz o periódico: “É como se seu time fosse vice-campeão de um torneio e, algum tempo depois, o campeão fosse declarado inexistente porque violou as regras do jogo.”
A Igreja considera o matrimônio um sacramento sagrado, baseado nas palavras de Jesus: o que Deus uniu não cabe ao homem separar. Quem quiser que interprete as palavras de Cristo como quiser. O papa tem o direito e o dever de dar sua interpretação aos seus fiéis.
O fato é que o casamento foi realmente banalizado na sociedade moderna. Não acho que facilitar ou dificultar a separação seja a solução, mas acho que as pessoas devem pensar mais ao tomar esta decisão. E é sim uma questão que cabe reflexão moral e, sobretudo, de moral religiosa. Seja católica, evangélica, judaica ou espírita.
Só técnicos
Adeus Polícia Federal
Esta semana foi confirmado o novo Ministro da Justiça. Trata-se de Tarso Genro. Nunca antes o ministério teve um titular tão político e ideológico. Vive alardeando uma tal “refundação” do PT, mas diante de qualquer acusação ao partido saía-se com “conspiração da mídia”. Nos dias seguintes à re-eleição defendia o controle da imprensa pelo Estado.
Pois se não tem o controle da imprensa agora tem da Polícia Federal. Se a PF já não investigava mensaleiros sob o comando de MTB agora, então, sem chance. Não tenho dúvidas que a instituição ficará agora à serviço do PT, tornando-se uma polícia política.
A única esperança é que Genro é um desastre em qualquer cargo que ocupe. Foi assim no Ministério da Educação (um daqueles que Lula disse que não brinca), na presidência do PT (brevíssima) e na coordenação política do governo (constantemente desautorizado pelo presidente). Sua incopetência é benéfica ao país, espero que não nos decepcione.
Começou muito mal o novo ministério. O da agricultura inclusive já subiu no telhado. Descobriram que a ficha é mais suja que pau de galinheiro, e mais uma vez o presidente se queixa que ninguém lhe avisou.
Um governo com a cara do país.
Pacote da Educação
Ontem foi o dia da educação. O presidente fez questão de falar do tema e na sua coleção de bobagens habituais saiu-se com essa:
“Eu acho que tem duas coisas que são fundamentais no Brasil: Educação e Saúde. Com isso, a gente não brinca, a gente não partidariza, a gente monta o governo com as pessoas que têm competência, com as pessoas que têm capacidade de montar um bom governo. Porque, na Saúde, se você brincar, é morte. Na Educação, se você brincar, é um analfabeto”.
A única leitura possível é que os demais ministérios podem ser ocupados por pessoas sem competência, partidarizadas. É mais um assinte. Talvez explique, por exemplo, a relação da causa e efeito entre a nomeação do companheiro Waldir Pires para a defesa e o apagão aéreo (com mortes). Lógico que Lula esqueceu que já “brincou” com a saúde com Humberto Costa.
Uma das minhas maiores críticas ao governo PSDB foi a educação. Instituíram uma bobagem sem tamanho que foi a progressão continuada, em que a escola é obrigada a aprovar o aluno mesmo que não tenha aprendido. O resultado pode ser visto no desempenho horroroso dos alunos de São Paulo.
Pois o governo Lula conseguiu piorar o quadro quando o celebrado ministro Cristovão Buarque acabou com o provão. Cabia melhorias? Com certeza. Mas o provão provocou uma correria nas universidades particulares para melhorar o ensino e, principalmente, contratar melhores professores. O aperfeiçoamento dos mesmos através de mestrados e doutorados passaram a ser incentivados o que aumentou a procura por cursos de pós-graduação. Hoje voltamos à mediocridade de sempre.
O presidente promete um pacote para o setor. Fala-se em 1 Bilhão de reais. Acredito que será mais dinheiro jogado no ralo. O que já existe, se não é o melhor dos mundos, é muito mal gasto. Deveria-se primeiro arrumar a casa com o que já tem para depois colocar mais recursos. O que entrar agora só vai para os imensos ralos do setor.
Cada vez mais estou convencido que a medida urgente no setor é melhor capacitação dos professores. E parar com esta outra bobagem de que a escola deve ter como objetivo principal formar o cidadão. É uma responsabilidade que a família não pode e não deve abrir mão. A escola é parte desse processo, à medida que deveria estar fazendo o que se espera. Ensinar. Mas como ensinar se recente exame em professores de matemática recém-formados produziu a horrorosa média de 2,7?
O necessário hoje é um diagnóstico. O que está errado? Onde estão aplicados os recursos? Como são avaliados os currículos? Como são avaliados os professores? E os alunos?
Estas respostas já conduzem por si só às primeiras medidas a serem tomadas.
Um exemplo retrata o apagão da Educação. Uma das únicas escolas que ainda apresenta rigor com os casos de cola é a Academia Militar das Agulhas Negras. Desde os tempos de Caxias a punição para a prática é inapelável: expulsão. Pois um aluno recentemente expulso pela prática ganhou na justiça o direito de voltar, apesar de contrariar o regulamento da instituição, que foi acordado pelo aluno ao ingressar. Entendeu a justiça que a cola é uma prática normal no Brasil e portanto não deve ser motivo para punição.
Como disse Millôr: a vaca já foi para o brejo, estamos no máximo administrando o rabo…
Ministério da Comunicação Social
O governo considera que 34 ministérios eram poucos para tantas boas intenções. Está criando mais dois. Um de portos e aeroportos para acomodar aliados. Outro muito mais emblemático, o Ministério da Comunicação Social.
Trata-se de um super-ministério que terá ainda mais poder que a antiga Secom de Gushiken. Terá sobre sua esfera a Radiobrás e a nova tv do Executivo. E o governo alardeou que a nova tv seguiria o modelo da BBC. Engraçado. Um modelo de autonomia mas subordinado a um ministério que tem como razão de ser a propaganda oficial do governo. E com um modesto orçamento de 1,5 bilhões de reais. Só em verba publicitária.
Cabe lembrar que estas verbas publicitárias alimentaram o mensalão. Cabe lembrar que mensalão foi a compra de votos de deputados no congresso. É bom lembrar estas coisas para não cair no esquecimento.
Mas não é só isso. O governo quer que o novo Ministro seja Franklin Martins. Martins era o comentarista político do Jornal Nacional até que foi emparedado por Diogo Mainardi em artigo para a Veja que relatava seus elos com o governo. Houve uma troca de artigos pela imprensa e Franklin acabou demitido da Globo. Na época o Observatório da Imprensa fez o calvário de Mainardi.
Coincidência ou não aí está Franklin Martins acertando seu lugar como Ministro de Lula. Podem até dizer que ele é um profissional e etc. Mas a grande pergunta é: o governo convidaria para um cargo tão vital alguém que não tivesse total confiança? E da onde vem esta confiança? Da atitude imparcial e neutra que o jornalista afirmou ano passado?
Só sei que deve ter um bando de jornalista se roendo de inveja. Gente com Cruvinel, Noblat….
Mais uma derrota na OMC
Uma coisa que nunca me interessei muito foi política externa, mas ultimamente tenho me esforçado para me inteirar mais nesta parte.
A notícia ontem foi a derrota do Brasil na OMC. Pelo que entendi o Brasil tinha impedido a importação de pneus recauchutados por motivos ambientais. O problema é que alguns países do Mercosul, notadamente o Uruguai, não foram atendidos pela medida. Além disso alguns importadores conseguiram liminares na justiça garantindo a importação.
A OMC decidiu que a questão ambiental pode sim ser utilizada para impedir a entrada de produtos em um país, mas a medida tem que ser aplicada a todos os importadores. Além de impedir as tais liminares.
Na prática significa que o Brasil pode proibir a importação, mas deve impedir também a oriunda do Mercosul. Foi mais uma derrota da diplomacia sul-sul que está sendo implantada por Celso Amorim, que aliás novamente tenta transformar derrota em vitória como no caso Bolívia. Segundo ele, o relatório é favorável ao Brasil pois “Nos protege e acata a nossa argumentação de que razões de meio ambiente podem ser invocadas”. Típico.
Absolutismo
Turismo
TV Executivo
O governo planeja implantar a Rede Nacional de TV Pública do Executivo. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, apresentou ontem ao presidente Lula o anteprojeto da criação da rede. A estimativa é de que o custo da TV do Poder Executivo seja de R$250 milhões nos próximos quatro anos.
Faz parte do projeto petista de “democratizar” os meios de comunicações, junto com a revisão das concessões. Alegam que a Inglaterra tem uma tv pública reconhecida mundialmente, a BBC.
Não tenho dúvidas que a TV Executivo não vai lembrar em nada a BBC. Esta tem autonomia editorial em relação ao governo pois entende-se que é uma rede pública e não rede governamental. É uma diferença enorme. A BBC considera que está a serviço do povo inglês e não dos governantes de plantão.
Aqui no trópicos é impossível imaginar modelo semelhante. Num país onde não existe fronteiras entre o público e o privado não há como o governo não meter as mãos com tudo na programação da emissora. Já devem estar até loteando os cargos para os aliados. Vai ser a voz do Brasil versão televisiva.
É só ver o que o governo fez com a Isto É e a Carta Capital. A primeira foi feita até de aliada em crime eleitoral. A segunda já é uma versão do Pravda, o extinto noticiário oficial soviético. Se fazem isso com mídias “privadas”, estas aspas são por conta do amplo domínio de patrocínio oficial, imagine com uma rede à disposição…