O artigo de Gustavo Ioschpe sobre a realidade educacional brasileira publicado na revista Veja desta semana é daqueles de causar polêmica. Ioschpe afirma que os males da escola brasileira não têm relação com a falta de recursos e muito menos com os baixos salários, mas sim do despreparo dos docentes para o exercício da profissão.
No artigo ele apresenta 4 mitos sobre a educação no Brasil:
- O professor brasileiro é mal renumerado. Os professores não podem ser comparados com os professores estrangeiros, sobretudo em países cuja renda seja dez vezes maior do que a brasileira. A comparação correta é com a média nacional de salários. No Brasil os professores recebem em média 56% a mais do que a média salarial do país. Nos países mais ricos a renumeração dos professores é 15% menor. Afirma ainda que a jornada de trabalho dos professores é menor do que a da maioria das profissões.
- A educação só vai melhorar no dia em que os professores receberem salário mais alto. Não há respaldo para esta afirmação nem na experiência internacional nem na brasileira. Com a implantação do Fundef em 1997 houve uma significativa melhora de salário para os docentes. No entanto as notas dos alunos nos exames nacionais despencaram. O que mais prejudica a performance dos docentes é o desprezo pelos talentos individuais e a idéia equivocada da maioria dos professores que “formar cidadãos conscientes” é prioridade em relação a “proporcionar conhecimentos básicos”.
- O Brasil investe pouco dinheiro em educação. Os próprios dados oficiais desmentem esta afirmação. O Brasil investe 3,4% do PIB nas escolas básicas. Nos países da OCDE (Europa + EUA) o investimento corresponde a 3,5%. No ensino superior é 0,8% (para 20% dos jovens que chegam às universidades) contra 1% (para 50% ). Relativamente investimos mais no ensino superior do que os países desenvolvidos. A Coréia do Sul revolucionou seu ensino com 3,5%. O que falta é qualidade no gasto.
- A escola particular é excelente. Os resultados de exames realizados por estudantes das escolas públicas e privadas só permitem concluir que as escolas privadas são um pouco melhor que as públicas. A superioridade da escola privada deve-se mais ao nível sócio-econômico dos alunos, que encontram melhor ambiente para estudo, do que pela qualidade das próprias escolas. Ambas sofrem do mesmo mal: seus professores passaram por escolas ruins e cursaram faculdades precárias.
Gosto de artigos embasados que tentam quebrar os lugares comuns que lemos todos os dias na imprensa. Em geral precisamos elevar o nível das discussões no país, e para isso é fundamental o contraditório. Se discordam do Sr Ioschpe que apresentem argumentos. O normal é saírem acusando-o de preconceito contra professores e etc. É o típico de argumento que não enriquece o debate.