BB: Uma vergonha!

31.01, 11h20
Valor Econômico

Um dos envolvidos no escândalo da compra do dossiê Vedoin, o economista Expedito Veloso, foi reintegrado anteontem aos quadros do Banco do Brasil, exercendo um cargo de confiança. Ele será gerente-executivo de projetos especiais – e desenvolverá novos produtos de varejo para pessoas físicas.

Expedito havia sido afastado do cargo de diretor de gestão de risco em setembro passado, quando surgiram as primeiras notícias do envolvimento dele na compra de um dossiê que vinculava o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra, à máfia das sanguessugas. Na época, ele tirou férias do BB para trabalhar na campanha de Lula.

Ele volta agora dois degraus abaixo na hierarquia do BB. Abaixo do cargo de diretor, vêm os superintendentes e, em seguida, os gerentes executivos. Mas Expedito avança um cargo em relação à função que ocupava antes do governo Lula – até 2002, ele era um diretor de divisão.

Este é o papel de uma banco? Ainda tem gente que defende o modelo estatal. Um funcionário, mais do que isso, um diretor, que participa de uma atividade criminosa envolvendo uma grana preta e se torna personagem em um escândalo gigantesco noticiado em todos os veículos de comunicações do país jamais voltaria a trabalhar no sistema bancário, que deveria primar pela confiança, ainda mais no mesmo banco que estava antes.

Televisão na Família


No filme De Volta Para o Futuro tem uma cena memorável em que o personagem principal, deslocado no tempo para 1955, anuncia para sua família que em sua casa existem 3 televisões. As crianças arregalam os olhos, mas o pai é taxativo: ninguém tem mais do que uma televisão em casa.

Durante minha infância nos acostumamos com uma televisão na sala, em que nos contentávamos com os 4 ou 5 canais que eram transmitidos e sem direito a controle remoto! Com o tempo, já adulto vi aumentar o número de televisores. Hoje existem 3 aparelhos na casa de meus pais. Detalhe: só moram duas pessoas!

Na casa da minha sogra não era muito diferente. Existiam 3 aparelhos. Uma vez notei que as 3 televisões estavam ligadas no mesmo canal, com a família espalhada nos quartos assistindo. Hoje moram 3 pessoas lá, com 2 aparelhos. Todos nos quartos. Nenhuma na sala.

Diante deste quadro eu e minha esposa adotamos uma regra. Em minha casa somos 4 pessoas e temos apenas uma televisão e fica na sala. Com isso assistimos constantemente programas juntos e acabamos interagindo mais. Disputas acontecem, mas são sempre resolvidas como devem ser: com diálogo. E o quarto deixa de ser aquele depósito de comidas e revistas espalhadas que normalmente completam o ato de assistir TV. Não dá? Pois o aparelho de som funciona junto com a televisão. Quando eu vou escutar música a televisão fica desligada! E olha que escuto bastante!

Quer saber? Foi uma das decisões mais felizes que já tomamos! E não foi por falta de aparelho não, pois compramos um extra no casamento. Pois ele ficou na casa da sogra este tempo todo e agora está no Rio de Janeiro. Faça suas contas. Quantas televisões existem na sua casa? Uma para cada pessoa? Será que este falto contribui para aproximar ou afastar as pessoas da sua casa?

Urnas de Alagoas

Faz duas edições que a Veja vem mostrando a investigação que está ocorrendo em várias urnas que foram utilizadas na última eleição em Alagoas. Não é coisa a toa, pois o ITA já entrou na jogada e seu relatório aponta para indícios fortes de fraude. Este fato por si só já seria grave, mas os desdobramentos parecem de maior gravidade ainda.

Mesmo com este parecer do ITA o TRE e o TSE se apressam em garantir que as urnas não foram violadas, que tal prática é impossível. Claro que não é. Se conseguem violar a segurança da NASA e de bancos, que investem bilhões na proteção de seus sistemas, porque não conseguiriam penetrar nas urnas brasileiras? A nossa maior garantia seria a vigilância e ação firma da justiça eleitoral, por isso me causa espanto e preocupação quando a justiça assume a defesa do sistema. Nenhum sistema é infalível.

E não para por aí. A mídia também não quer mexer neste vespeiro, nem os partidos políticos. Estamos diante de uma situação em que a segurança das urnas não pode ser questionada. E desconfio de tudo que não possa ser questionado. A fraude de uma única urna prova que qualquer outra pode ser fraudada, o que colocaria sob suspeita todo nosso processo eleitoral.

Não sou adepto de teoria conspiratória e sempre as retruquei aqui. Mas indícios devem sim ser investigados e as urnas eletrônicas a despeito de todas as vantagens tem um ponto extremamente negativo. Impede a verificação do resultado. Talvez por isso nenhum outro país a tenha adotado. A cédula permanece como registro e permite que seja feita a recontagem e que apuração seja acompanhada por fiscais de todos os partidos.

Desconfio sempre de tudo que o Brasil faz que ninguém mais faz. Sempre.

Entrevista com Delfim Netto

O neo-lulista Delfim Netto deu entrevista na Veja desta semana. Do que falou separei os seguintes trechos:

Não há liberdade quando os meios de produção são estatais. Porque o Estado só dá emprego e benefício para quem quiser.

Esta é uma realidade histórica seja em Cuba seja na antiga URSS. Se o Estado controlar toda a produção do país o trabalhador perde a liberdade pois tem a sua vida decidida por um único patrão. Basta perguntar a Boxer em A Revolução dos Bichos.

Se a desigualdade é natural em um mundo livre, é justo que as pessoas comecem a competir tendo as mesmas oportunidades de educação e de saúde.

O difícil é definir até onde vai o início. Entendo que o Estado deveria dar educação de qualidade à medida de suas possibilidades da alfabetização até o fim do ciclo técnico. Se o recurso é pouco, prioridade para educação de base e não nosso modelo anacrônico de começar pelas faculdades. A desgraça já está feita, e só se desperdiça o recurso público.


O setor privado precisa de duas garantias para investir: a de que haverá crescimento e a de que não faltará energia.

Na minha ignorância acho que faltou a segurança jurídica, mais importante até do que a certeza de crescimento. Investe-se mesmo em ambiente de estagnação se houver perspectiva de lucro. Mas ninguém investe se não tiver garantias que as leis serão respeitadas, e aí está o problema do Brasil. Enquanto as agências reguladoras forem ocupadas na partilha política e violações flagrantes a lei como os atos do MST forem permitidos o resultado será o que estamos vendo.

O constituinte de 1988 partiu da hipótese de que tudo o que fora feito no regime autoritário estava errado. Então decidiu fazer o contrário. (…) Instituiu-se, por decreto, uma sociedade do bem-estar de nível sueco num país com nível de renda que era um décimo do europeu. (…) ela consiste em várias declarações de direitos sem nenhuma indicação de quem pagaria a conta.

Este é o trecho que achei mais interessante. Realmente, faz tempo que acho a constituição uma peça utópica que obriga os governos a torturarem as leis para conseguir fazer alguma coisa. Foi feita por recalcados políticos anistiados, que resolveram tratar a constituinte como uma vingança particular contra os militares. Todos os bandidos passaram a ser tratados como perseguidos políticos e com isso passaram a ter direitos que muitas vezes impedem que cumpram pena, mesmo que condenados. O congresso passou a ter direitos muito além do razoável, na expectativa que não pudesse mais ser controlado pelo governo, o que se vê que saiu um verdadeiro tiro no pé, pois nem nos governos militares foi tão servil ao presidente como agora. Se a lei máxima da nação é esta coisa, o que esperar do resto?

Debate na Câmara

Mais ou menos como previsto.

Chinaglia fez dois discursos. Um para a tv e a imprensa, onde defendeu teto para os parlamentares, moralização da câmara, independência entre os poderes, etc. Outro foi entre linhas para os deputados eleitores. Deixou sub-entendido que cabe ao presidente da câmara respeitar por exemplo um projeto de iniciativa popular. Só tem um em discussão hoje: o da anistia de José Dirceu. Defendeu também que o teto deve ser o mesmo dos outros poderes, numa clara alusão a igualar o teto do judiciário. Como bom petista aproveitou para distorcer as palavras de Fruet. Um momento claro foi quando Fruet dizia que a candidatura de Chinaglia era apoiado por uns dos símbolos da derrocada moral do congresso. Na réplica Chinaglia afirmou que Fruet estava atacando seu próprio partido, já que inicialmente teria apoio do PSDB. Fruet não se furtou de citar de quem estava falando, apresentando o nome de Severino Cavalcanti como exemplo.

Aldo Rebelo, por mais que se esforçasse não conseguiu deixar de transmitir a imagem de quem foi abandonado ao relento pelo grande guia. Não sei como tem gente que acredita ainda em uma só palavra de Lula. Claramente o presidente não tem o menor apego à verdade, e usa e descarta aliados com facilidade. No mais tentou manter a imagem de sintonia com o governo.

Fruet já tem um grande mérito. Se não fosse candidato a disputa teria se resumido ao oferecimento de vagas (reais ou não) na nau Lula II. Não haveria nem debate público. Uma mensagem que achei bastante pertinente foi sobre uma diferença do legislativo para os demais poderes. Não podem querer comparar deputados com juízes. Os juízes são funcionários de carreiras, concursados e de cargo vitalício. Assim como grande parte do executivo. Os deputados são eleitos por 4 anos, e não podem portanto querer direitos iguais em todos os pontos.

Quem é o favorito? E claro que é Chinaglia. Já distribuiu 3 ministérios inteiros aos deputados. Se eleito não demorará muito a cobrarem a fatura, e os deputados descobrirão que nada vale a palavra do governo. Ficarão a ver navios. E será bem feito.

Chinaglia e a teoria do voto absolvidor

Por mais que Chinaglia tenha explicado a mensagem que ficou da sua confusão de argumentos a idéia ficou bem clara para quem escutou com atenção. O voto absolve candidatos que renunciaram para escapar do processo no parlamento. É a velha idéia da esquerda que o voto pode tudo. Não pode. Existem leis justamente para evitar que a maioria possa oprimir a minoria. Imaginem se a maioria que votou no Lula decidisse que a minoria que votou contra ele deveria perder o emprego.

Mas Chinaglia não acha nada disso. Acha que o deputado que foi eleito pelo povo (lembremos que a maioria foi eleita por voto de legenda), não pode ter seu mandato questionado pela câmara. Pois aí está um candidato a favor da impunidade. Basta ver seus apoios: Dirceu, Jefferson, Costa Netto, Severino, …

Debate na Câmara

Hoje a TV Câmara transmite o debate entre os candidatos à presidência da casa. É uma eleição curiosa. Querem que acreditemos que a vitória de Aldo Rebelo seria uma vitória da oposição diante do candidato do PT. Os jornais reforçam que Lula permitiu que a base se dividisse ao não intervir na disputa entre os dois governistas. Balela. O que aconteceu é que existiam apenas os dois candidatos. Era o melhor dos mundos para o Lulismo. Com dois candidatos venceria de qualquer forma, e ainda contava com o apoio da oposição ao vencedor pois, com a base dividida, a eleição seria definida com certeza pela oposição. Não é uma democracia? Elege-se um candidato do governo com apoio da oposição? E tem gente que acha que Lula não mede cada pequeno ato seu.

O que não contavam era com a candidatura de Fruet. Até esperavam que houvesse um candidato alternativo, mas imaginaram um candidato do PPS, PV ou adjacências, nunca do PSDB. Por enquanto os lulistas não acreditam na vitória de Fruet, mas temem o voto secreto e isso é o suficiente para os deixar apreensivos. Mas confiam que os deputados não vão querer um presidente que zele pela ética e o decoro.

Como adiantou Sérgio Buarque de Holanda: A democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido.

Crescimento de 5%? Só com apagão.

Por Lu Aiko Otta e Leonardo Goy, no Estadão deste domingo:

Se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) der certo e a economia alcançar taxas de expansão na casa dos 5%, o País corre o risco de um novo apagão. É o que informa um relatório confidencial da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda, ao qual o Estado teve acesso. O documento, que circulou quando o PAC estava em preparação, diz que um crescimento de 4% entre 2007 e 2010 só será sustentável se todas as usinas hidrelétricas programadas para entrar em funcionamento no período ficarem prontas no prazo e não houver problemas no abastecimento de gás natural para as térmicas.

Não é interessante? Aliás nada de novo aqui. Vários especialistas, antes mesmo do anúncio do PAC já alertavam que nossa matriz energética não comporta crescimento constante de 5% do PIB. Pois o governo sabe disso. Como ninguém acredita que Lula II possa querer um apagão elétrico, mesmo com sua obsessão de ser FHC, só pode haver uma leitura possível para esta matéria. Ninguém no governo espera crescimento nem perto de 5%, aliás quem souber ler nas entrelinhas cada pronunciamento do governo já possui uma desculpa antecipada para o fracasso do plano. E a iniciativa privada tem tudo para se transformar no vilão, junto é claro com o Banco Central.